Nossa história

Ele sabia da existência do meu diário e vez ou outra perguntava sobre as histórias que ali eu contava.

-Há muito sobre você, se é o que quer saber – eu dizia.

-Muito quanto? – era curioso por natureza. O que me fazia rir por horas quando estávamos juntos, o que, normalmente, queria dizer quase sempre.

-Muito o suficiente para as outras histórias terem que pedir licença para existir.

Ele me puxou pra perto de si no sofá, me deu um beijo demoradamente e disse enquanto me deitava em seu colo:

-Você é incrivelmente bonita.

Logo depois disso, dormi. Tarde com chuva mais colo e cafuné era igual a sono profundo no meio do dia.

Fui abrindo os olhos aos poucos, espreguiçando, enrolando como sempre fazia. Busquei o rosto dele, mas não estava mais no sofá e nem ele, ali. Levantei ainda um pouco sonsa e zonza e fui até a sala. Olhei a janela e percebi que o Sol já virara Lua. Ali, duas caixinhas de comida chinesa estavam sobre a mesa, ao lado de um caderno com uma fita azul e ele… Ele estava ali sentado de peito e braços abertos. Fui até lá e sentei em seu colo perguntando o porquê daquilo tudo.

Ele pegou o caderno de fita azul na mão, entregou-me e disse:

-Essa é a licença para as outras histórias existirem.

Abri o caderno que cheirava a novo e em cada rodapé de página uma mensagem se seguia: “você é incrivelmente bonita”, “boa noite, querida”, “se precisar me ligue”, e muitas outras.

-Obrigada – abracei-o ainda meio mole pelo sono.

-Antes que pergunte, as mensagens são para que se perca em suas outras histórias, mas ao final delas lembre-se sempre que tem pra onde voltar.

-Pra nossa história? – Perguntei bocejando.

-Pra mim.

E aquela fita azul era tudo o que eu precisava.

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