O amor é para os fracos. Para mim, uma dose de uísque

Não tenho muita paciência pra quem fala de amor. Todo aquele platonismo, todo aquele desespero, toda aquela euforia. Toda aquela vontade de viver que vive conflitando com a minha vontade de hibernar. De entrar num saco de dormir e só abrir os olhos quando um maremoto já tiver varrido desse planeta os amantes. Os apaixonados. Os que suspiram por aí, sem sequer se dar conta do tamanho da cafonice que é falar de amor.

Parece papo de gente drogada. Se, no final da noite, eu e a minha ebriedade estamos relegados à nossa inconveniência e à nossa solidão a dois, que assim também estejam os apaixonados. Mas não. Eles sempre têm vez. E todo mundo sempre tem ouvidos. Pra quê? Pra escutar as velhas ladainhas de sempre. Que ele é lindo. Que os cabelos dela são macios como nuvens. Que o corpo dele parece que foi moldado à mão. Que ela foi embora e deixou saudades. Que amar faz bem pra pele. Que o amor não sabe esperar. Que mimimi, mimimi, mimimi.

Às vezes eu preferiria que alguma testemunha de Jeová me viesse bater à porta e oferecer a palavra de Deus. Porque, sabe, parece ser mais original. Mais movimentado. Esse lance de céu, inferno, Deus, Jesus, Maria, José, Lúcifer. Esses dogmas obscuros, que me fazem questionar se Maria transou ou não transou com José, quem é o espírito santo, se um dia todos nós vamos nos encontrar no tal do juízo final. Rola um protagonismo, um antagonismo. Um objetivo, uma jornada do herói. E por mais que também não passe de uma historinha de amor, certamente é uma trama mais complexa do que você e o seu namoradinho abraçados, assistindo a uma comédia melosa no Netflix e comendo um pote de sorvete de flocos. Ou pintando a casa nova e rindo apaixonadamente, enquanto um suja o nariz do outro com tinta. Ou pelados e ~fazendo amor~.

Entende como é chata toda essa normatividade amorosa? Ainda se você amasse alguém proibido. Ou alguém diferente. Ou a sua mãe. Ou a Elis Regina. Ou uma iguana. Ou o próximo, que passa fome, frio, sede. Mas não. Você sempre opta pela mesma velha história. Pelo amor romântico. Por amar alguém que é bonito, legal, cheiroso, feliz. Alguém com quem você vai se casar. Comprar uma casa com um gramado verde pro seu cachorrinho peludo correr e cagar à vontade. Financiar um carro maior, que é pra caber o seu ego e o de toda a sua família. Dividir as parcelas de um crédito consignado. E ter um filho limpinho para pentear todas as manhãs, antes de levá-lo a uma escola cheia de crianças limpinhas que só vão ser alfabetizadas aos seis anos de idade e aprender que a meritocracia é um dos grandes valores da nossa sociedade.

Mas se todo mundo acha isso o suprassumo da existência humana, quem sou eu pra criticar? Se até os meus pais caíram nesse conto do vigário, quem sou eu pra criticar? Se as pessoas erguem suas vidas com base nessa crazy little thing called love, quem sou eu pra criticar?

Uma idiota. Uma louca. Uma bêbada. Desce mais uma dose daquele uísque pros fortes aí, garçom. Pros fracos a gente deixa o amor.

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