Será que o amor vence todas as diferenças?
Os casos quase diários que vemos de casais completamente diferentes entre si que ficam anos juntos botam uma pulga atrás da orelha de quase todo mundo. “Ela votou no Lula, ele vai votar o Aécio, como pôde dar certo”, dizem as pessoas. “Ela é ambientalista e ele tem uma madeireira clandestina na Amazônia, como eles dão tão certo?”, bradam os vizinhos. Ora, a resposta é mais fácil que risada de bêbado: não são as grandes diferenças os vilões dos casais, mas sim as pequenas diferenças.
Ser de direita ou de esquerda, ser Fluminense ou Flamengo, gostar de filme francês ou filme de tiroteio, ser árabe ou israelense – nada disso é motivo para uma separação, ou para sequer impedir um relacionamento. Pois o amor supera essas dificuldades, o amor faz um brasileiro se apaixonar por uma argentina, o amor faz um vegetariano se casar com uma carnívora. O amor vence o ódio, vence as diferenças raciais. Mas se o seu Beatle favorito for – como deve ser sensatamente – o George, e o dela for – coisa de leigo – o John, isso o amor não supera.
Ser um contra e o outro a favor da pena de morte não é nada, mas não há relacionamento que agüente a sua mulher fazer faxina na casa ouvindo Los Hermanos. Como um casamento pode sobreviver se ela não gosta de Guilherme Arantes? Como duas pessoas podem dividir a cama se uma delas come o arroz e o feijão junto com a carne e a outra come o arroz e o feijão antes e deixa a carne sozinha pro final?
Diferenças são contornáveis na maioria dos casos, mas às vezes havemos de ser mais drásticos. Dá pra contornar se você gosta de ler vendo TV e ela só lê no silêncio, mas como conciliar se – Deus me perdoe por escrever isso – ela tiver o horrendo hábito de botar maionese na batata frita? Ou – o horror, o horror! – se ela não acha Concert for George muito melhor que o Concert for Bangladesh. É o tipo de coisa que não dá nem pra dividir o mesmo copo com alguém assim. Pior do que discutir se a esquerda decepcionou ou não é ter que discutir com alguém que não gostou do Larry David em Whatever Works, do Woody Allen. Definitivamente o amor não supera tudo.
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