O casamento está falido

Sábado agora eu casei no civil para poder legitimar juridicamente minha união que já transcorre desde 2011. Já morava junto desde começo de 2012, mas quis mesmo assim fazer tudo como manda o figurino. Até festança terei para celebrar esse encontro com a pessoa que amo. Afinal, nada como reunir pessoas queridas ao redor de uma comemoração.

Recebi mais de 750 mensagens entre likes e comentários carinhosos no Facebook e por telefone, mas 3 espíritos-de-porcos me mandaram mensagens inbox que me fizeram pensar sobre o que se passa na cabeça das pessoas.

1 – “Casamento é uma instituição falida”

Não acho que existe nada falido que não represente apenas um estado de espírito das pessoas envolvidas. O casamento é uma união civil e/ou religiosa entre duas pessoas que com livre consentimento resolveram legitimar esse estado perante a sociedade.

Se o casamento está falido porque a durabilidade tem diminuído eu só posso chegar em uma conclusão: as pessoas de modo geral estão mais precipitadas para começar algo (seja um casamento ou uma emprego) e terminar. O que isso revela é que seja uma empresa, um casamento, uma transa ou um sonho ele não dura tempo suficiente para as pessoas. Elas começam pelos motivos errados e iludidas pela paixão e com isso perdem o critério e a sensatez.

As pessoas envolvidas se mostram incapazes de sustentar suas escolhas para além do gozo imediato. As escolhas artesanais e construídas aos poucos são raras, na maior parte tudo vem com visão de curto prazo.

“A fila anda” como dizem revela a impaciência generalizada, parece fabricação em massa, e a frase “se não quer tem quem queira” denota a dificuldade mimada de digerir frustrações sem acessos de estrelismo.

De modo geral as pessoas não se preparam para longas jornadas, não fazem poupança ou pensam em decisões que impactam sua vida para além de dois anos, prazo de durabilidade dos casamentos da atualidade.

Tive 3 critérios para escolher minha companheira: amorosidade (gentileza, afetuosidade, abertura), estabilidade pessoal e profissional (sem dúvidas básicas sobre o que fazer com a própria vida) e capacidade de se abrir para o crescimento (e não ficar empacada em dilemas banais). Por essa escolha bem pensada – onde o amor não me cegava para ver as minhas limitações e as dela – é que já não começa falido.

2 – “Quero ver colocar sua teoria na prática kkk”

As coisas que eu escrevo, não dizem respeito a relacionamento amoroso, apesar de parecer que sim, tratam antes de tudo de maturidade emocional que é a base de qualquer relação humana, amorosa ou não.

Quando falo de diálogo, paciência, negociação de conflitos, sabedoria, infantilidade num relacionamento amoroso só toco nesse ponto pois sei que é ali que as pessoas mais liberam suas infantilidades justificadas em nome do amor.

Em matéria de relacionamento amoroso não existe teoria que não seja aplicada, o que dá pra fazer em outras áreas não-amorosas dá para fazer à dois.

3 – “Agora está amarrado”

Só fica amarrado quem confunde vida de solteiro com liberdade e vida de casado com prisão. Sempre me senti livre para ir e vir e ser o que sou e quando faço a escolha de casar estou exercendo minha plena liberdade de fazer escolhas diárias. Essas decisões de muitos anos em convergir meus passos com minha esposa. Fiz a escolha lúcido e com a pessoa que se mostrou muito sensata, amorosa e companheira, portanto é com ela que quero alinhar os objetivos de vida. Sou livre diariamente para fazer isso, não me sinto asfixiado ou impedido de nada e nem acho que estou perdendo as chances de conhecer mil mulheres pelo mundo a fora. Não acho necessariamente a novidade incessante uma vantagem em detrimento do conhecido, não sou viciado em surpresas para me sentir vivo. A minha mesma fisionomia diária não me entendia, pois nunca sou o mesmo.

Escolher uma só mulher é outra forma de liberdade, pois quero descobrir cada caminho em torno da intimidade de anos. Quero reconhecer cada ruga e pesquisar como me comporto em momentos de previsibilidade, monotonia e acomodação. Quero me desafiar a não cair no lugar-comum mesmo na aurora dos meus dias. Minha vida de casado não será nada radicalmente diferente da minha vida como foi até agora. Pensei com carinho em cada passo que dei e até com os imprevistos e enganos fiz coisas edificantes. O casamento já tem sido muito bom.

Ainda acho que superestimamos o relacionamento amoroso como se ele apaziguasse todas as inquietações humanas na caminhada de evolução pessoal. Eu vou crescer de um jeito ou de outro, mas com minha mulher ao lado isso terá um formato mais variado, salpicado de outros dilemas e cheio de ternura próprias.

Insisto, se existe algo falido é nossa capacidade de renovação pessoal.

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5 comentários abaixo sobre O casamento está falido

  • ANA SANTOS disse:

    Parabéns pelo texto! Me ajudou a repensar sobre este assunto.

  • Rita De cassia disse:

    Bom dia.
    Sábias palavra!
    Já ouvi muito sobre instituição falida. É simplesmente ridículo.
    As pessoas que dizem isso normalmente são homens. Inclusive tive o desprazer de ouvir isso do meu ex marido. Um dia bem chateada, perguntei a ele o que era o casamento pra ele.me respondeu com esta Frase: o casamento é uma instituição falida. Nem perdi meu tempo questionando. Simplesmente ali tive ainda mais certeza do quanto aquele ser não era merecedor do meu amor.

    • Vicente de Paula disse:

      Eu sou o filho mais novo da família e eu conto nos dedos de uma mão os familiares que ainda continuam casados. Eu desenvolvi uma certa aversão ao casamento. Tenho uma prima que enchia a boca pra falar o quanto era apaixonada e como o casamento é lindo. E mesmo ela se divorciou e teve problemas sérios psicológicos. Por que eu me submeteria a isso? Um relacionamento requer um investimento pesado: tempo, psicológico e dinheiro. O retorno teria que ser muito, mas muito alto para justificar esse investimento. Mas é um retorno baixo, a longo prazo quase nulo. Por que me submeteria a isso? Em vez disso eu foquei em estudar e na minha carreira profissional. Hoje, mesmo sendo o mais jovem, sou o mais rico da família. Os outros não tem tempo de tocar seus projetos pois estão atarefados demais com a família e não tem dinheiro pra investir pois gastam todas suas economias com os filhos. Se houvesse um retorno alto sobre isso Ok, nada contra. Mas é incrível como todos, absolutamente todos ficam falando que não tem tempo, que estão cansados. Qual o sentido de levar uma vida assim? Pra mim não faz sentido algum. Não entra na minha cabeça esse tradeoff

  • Anonimus disse:

    Você, Frederico Mattos, está fazendo um relato pessoal e ainda está com um casamento em formação (10 anos). Volte aqui quando fizer bodas de prata ou de ouro se seu casamento tiver sobrevivido até lá e diga-nos se está feliz. Até lá prefiro acreditar em dados estatísticos e científicos que. indicam que o casamento apresenta evidências muito fortes de que. o casamento é sim uma instituição falida.

    • Roberto Farias disse:

      As pessoas esquecem que qualquer relacionamento pode terminar. A felicidade não depende só do outro mais de você também. É verdade que as estatísticas mostram que a maioria dos casamentos fracassam. Mas isso significa apenas que as pessoas não conseguem lidar com os relacionamentos, ou entram em um já fracassado. E se terminar? Qual o problema? As coisas terminam e começam. Agora a frustação e felicidade são opcionais. Projetar sobre os outros suas incertezas e frustações dizem, mais sobre você do que sobre o outro.