O mundo é maior que o seu umbigo
Não me entenda mal, rapaz, mas eu preciso te contar que a vida não se resume ao seu metro quadrado. Você chorou, gritou, esperneou e feito um menino birrento jogou toda a culpa do nosso fim em cima de mim, se ausentou da responsabilidade nítida do fracasso em que resultamos. Nenhuma relação se desconstrói por culpa de um só lado, mas você não quis assumir que o buraco foi bem mais embaixo e atuou como o moleque que eu temia que você fosse. Disse por aí que fui eu que fiz dar errado, já que eu não me adequei ao seu script, quis falar na hora em que eu deveria contemplar o nosso silêncio e preferi me calar no momento em que você esperava por uma enxurrada de palavras vociferadas de maneira feroz. Eu não segui o seu roteiro, fui embora antes da felizes para sempre, entrei em cena no meio do seu espetáculo e dancei em cima das suas instruções. Você disparou pra todo mundo que o motivo de não termos dado certo fui eu, porque eu não me moldei você, fui rebelde desafiando o seu projeto rotineiro de relacionamento, quebrei o alicerce que sustenta seu ideal de história de amor. Sinto muito, rapaz, mas a vida não é como nos contos de fadas, e eu não sou uma princesa desesperada pelo amor da minha vida.
Sinto muito por todo o caos gerado, mas eu não nasci pra bater palma pra menino mimado, nem pra jogar confete em gente desesperada por atenção. Você não merece o meu tempo, infelizmente. Podia ter dado certo, mas você fez de tudo pra deixar o nosso amor pesado demais, ficou difícil nos carregar sozinha. Cê bateu o pé pra que tudo acontecesse da maneira em que acreditava que devia acontecer e não deixou espaço pra que eu também decidisse o rumo de nós dois. Agiu de forma egoísta, igual criança que só empresta o boneco se for pra brincadeira ser do jeito dela, só que meu coração não é brinquedo pra ser dominado por quem não tem cuidado algum, por isso eu o peguei de volta. Não consegui lidar com a sua falta de senso de realidade, no começo eu até senti pena de te ver descontrolado tentando jogar o peso do fracasso em alguém que parecesse mais forte que você, mas depois a ficha caiu e eu percebi que aquilo ainda fazia parte do seu espetáculo, você nunca sai de cena. Você nunca perde a pose. Você nunca erra. Você nunca tem culpa. Você é perfeito demais pra tolerar imperfeições alheias. Você é de mentira, um personagem bonitinho pra gente colocar na estante de tentativas erradas. Você não vale o risco de ter o peito dilacerado por um sentimento concreto. Você não vale o meu amor, nem o de ninguém. Pelo menos não enquanto encontrar nele uma disputa de ego.
No fim, eu senti uma raiva violenta de você, dessas que fazem a gente querer gritar pro mundo tudo o que gritam que deve ficar dentro da gente, eu quis mostrar que nada daquilo era verdade e que tudo não passava de uma fantasia criada por você mesmo pra justificar o que já nem tinha mais tanta importância. Você se fez de pobre coitado, como era de se esperar, porque é pequeno demais pra admitir que qualquer um no meu lugar teria pulado fora. Antes de ir, eu preciso te contar que o mundo não gira em torno do seu umbigo. A vida é bem maior que isso, rapaz. Eu até tentei te fazer enxergar que as coisas não precisam ser tão ensaiadas, que o amor não é de exatas e que pra viver uma história digna de cinema precisamos estar preparados pra abrir mão de contracenar sozinho no papel principal. Amar é saber dividir, o palco, a cena e a vida. Você não estava pronto pra isso, nem pro resultado final. Fazer o que? Então, depois de toda a confusão, eu deixo que você saía ileso dessa história que quase nem chegou a acontecer, é que pra quem tá pronto pro amor, acumular uma ou outra decepção não me torna menos preparada. Você ainda tem muito o que aprender.
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