O nosso amor de cinema pode nunca chegar
Não sei até que ponto o amor é real. Não que eu não acredite em bodas de diamantes bem vividas ou não me comova com a história do Titanic – mas é que as pessoas enfeitam tanto aquilo que chamam de amor, que a pureza do sentimento acaba ficando difícil de enxergar. O amor se camufla naquela neblina de exageros.
O amor – aquela história de simplesmente querer bem – é tão simples e perfeitamente compreensível que flui naturalmente, como uma orquestra que já não precisa ensaiar. Mas aí inventam buquês de flores. Inventam versos pomposos, alianças reluzentes, ciúmes egoístas, amores impossíveis, paixões complexas como um manual de física quântica.
Me parece que o mundo desacostumou da simplicidade. Talvez por culpa das previsíveis comédias românticas holiwoodianas ou dos enebriantes contos de fadas, queremos um amor sublime. Queremos um amor que nos surpreenda, nos pare no tempo, nos tire do chão e nos projeta ao mesmo tempo. Queremos um amor que traga flores, que nos leve pra ver o mundo, que nos peça em casamento e ainda nos elogie o sorriso. Queremos amores que transcendam o humano, e que permaneçam assim por quanto tempo nos baste – e não nos damos conta que, ao ser humano, absolutamente nada basta. Queremos o amor das histórias dos reinos distantes e esquecemo-nos que o amor de verdade, lindo e alcançável, está no cuidar. E que basta o cuidar.
Exagerados, acabamos por adorar esses amores inventados. Criamos mentiras que nos apeteçam, nos apaixonamos por elas e ainda reclamamos se elas nos decepcionam. Conhecemos alguém humano, transformamo-no em personagens encantados e transferimos a eles a responsabilidade de sê-los de fato.
Inventamos alguém incrível e nos zangamos se ele não passa na florista. Fantasiamos alguém de sorriso incessante e reclamamos se a pessoa fica de mau humor – como todo ser humano, convenhamos. Agimos como se as pessas estivessem adstitas às nossas projeções, e maldizemos a vida e o amor se as pessoas se mostram simplesmente humanas. Nos negamos a compreender que o mundo não tem que corresponder às nossas expectativas.
E perdemos o melhor do amor inventamos o outro em vez de observá-lo, desvendá-lo, aceitá-lo. Como se os outros nos pertencessem, transformamos a vida em uma eterna espera de uma felicidade quase encantada, e deixamos de lado o bom da vida, que é o puro e simples bem-querer. Meu avô tinha toda a razão: A gente afugenta o amor com essa nossa mania de tanta pose.
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