O que a gente faz é amor?
Agora a pouco, há bem pouco tempo mesmo, eu me perguntei o que é que a gente faz, afinal de contas. Se não deveríamos fazer nada, mas a gente só consegue fazer tudo. O que acontece quando você encosta a barba mal feita no espaço entre o meu ombro e o meu rosto, bem ali onde você sabe que mora meu arrepio? A gente acontece, eu sei. Mas é fazer acontecer ou é simplesmente acontecer sem ninguém fazer?
E você ri e diz que é meu disk-sexo-fácil. Não é que seja verdade, mas também não está longe de ser mentira. Eu te convido pra jantar, a gente come enquanto fala sobre coisas que nem você nem eu queremos saber, só pra ter certeza que mantemos aquela distância de amigos descolados que nós nunca fomos. E a gente ri. De nervoso, de piada, de novidade, de sempre. A gente se ri. E não existe coisa melhor do que te rir e te sentir me rindo. Como sempre, como nunca.
E aí a comida acaba e a gente inventa de dançar. E a gente ri porque os passos têm conotações sexuais com a cara mais lavada do mundo. E a gente tira o sofá, tira o chinelo, tira a roupa, tira a máscara. A pele fica a mostra só pra gente ver, e a gente fecha os olhos.
O que a gente faz é dançar no escuro, é se deixar levar, é anular um sentido pelo outro. É acabar com o sentido de todas as conversas definitivas que já tivemos. É olho no olho, é poder fazer piada durante o sexo é segurar na mão como se fossemos o que nunca deixamos de ser.
E a gente fica horas conversando sobre os nossos amigos em comum, querendo ajudar a eles sem perceber que a gente é que se ajuda quando ficamos falando dos outros ao invés de perceber o eterno problema que somos nós. E o que a gente faz quando se fala todos os dias e dança dois pra lá, dois pra cá quando na verdade deveríamos ir cada um pra um canto?
O que a gente faz é um quase fazer amor. Só não é amor porque o que a gente faz não tem depois e o amor não termina nunca. O que a gente faz é sexo com amor. Não é amar. Definitivamente, não é amar.
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