O que eu aprendi sobre maturidade com o filme “Onde vivem os monstros”

Onde vivem os monstros?

Adaptado de um livrinho escrito em 1963, o filme conta a saga de um menino chamado Max, que após ser colocado de castigo pela mãe acaba fugindo pra um universo inóspito, uma floresta cheia de perigos. Em seu refúgio imaginário, ele vive diversas aventuras a bordo de um pequeno veleiro que acaba o levando para uma ilha habitada por monstros. Ali, ele vai conquistando uma espécie de liderança política, pode criar suas próprias leis e regras, mas diante de tantos conflitos que lhe exigem maturidade, começa a sentir saudade da casa.

A fantasia de lobo me faz pensar que começa desde cedo a nossa necessidade de atenção. E daí nos vestimos de algum super herói ou monstro, como se tal conversão nos deixasse mais especiais, como se os problemas e as fragilidades ficassem impermeáveis. Isso sem contar o nosso lado agressivo, já que não basta estarmos vestidos, é preciso praticar no campo de batalha, e então a gente empurra o nosso irmão mais novo contra o chão para testarmos nossos poderes. O famoso “brincar de lutinha”, a brincadeira de mão que não da certo. O Max que está em todos nós.

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É sempre bom lembrar (e esse é meu lado pedagogo dando um parecer) que aquela criança tida como a chata, a agressiva, que vive trolando os coleguinhas, quer no fundo chamar a atenção, quer ser notada nem que seja no papel de insuportável. No filme, Max enfrenta o fantasma de ganhar um padrasto, o que significa dividir a atenção da mãe com outro sujeito do sexo masculino. E então entra em cena a nossa infalível solução de infância: o plano de fugir de casa. Esse filme remete muito a essa primeira vontade, de forjarmos um mundo autônomo e acharmos que tudo se resolve indo embora para sempre, só que por uma noite.

A partir do novo universo criado por Max, temos contato com o lado lúdico, o de construir universos possíveis através da imaginação e da brincadeira. O alívio que se estabelece pela brincadeira, mesmo que ali, a responsabilidade seja finalmente algo a ser levado a sério. Nesse contexto, o garoto funda a sua própria hierarquia, e ironicamente precisa ser ponderado para mediar os atritos entre os monstros. É eleito rei porque convence os habitantes da ilha de que possui a solução para que todos voltem a viver em harmonia. Quem sabe Max não daria um jeito nesse ambiente hostil que atende pelo nome de redes sociais?

All is Love

(Acho essa música emocionante).

O mais mágico de tudo, é que no universo infantil tudo tem uma solução e através do reconhecimento dos seus súditos Max chama pra si a responsabilidade, algo que ele justamente era desprovido em sua vida real. Sendo o rei, o menino está a salvo de obedecer as regras, ele é a regra, ele decide como as coisas serão consertadas. Sendo o rei, ele não corre o risco de ser a vítima de imposições e está imune de ser devorado por algum monstro. O engraçado é que para resolver o próprio problema, o menino inventa um universo em que ele precisa resolver o problema dos outros, e não é assim na vida real? Quem não tem a nítida impressão de que é fera pra aconselhar e apontar soluções pra um amigo, mas quando o assunto é consigo mesmo essa resolução vira algo complicadíssimo?

Esse filme, do mesmo diretor de “Her”, Spike Jonze, me parece genial, principalmente porque mostra porque o ato de viajar, de ir pra “longe”, nos ajuda a curar algumas angústias que parecem impossíveis de serem sanadas no meio do furacão. Os monstros, no fundo são metáforas que representam os sentimentos que habitam a organização emocional de Max. A alegria que precisa conviver com a intolerância, a irritação dialogando com a generosidade. E o aprendizado do menino vai além disso: para se estabelecer uma relação saudável com o mundo, é preciso saber conviver, a conexão pacífica é necessária para que o cotidiano seja mais leve. Nessa confusão de sentimentos é que a trilha composta por músicas lindinhas de Karen’O acompanha de forma singela a trajetória de Max.

Escrever sobre esse filme em especial é tão gratificante, porque me faz lembrar de que é preciso conviver, me faz querer dar mais uma chance para quem é diferente de mim. Ir longe, mas um dia voltar, voltar também é um tipo de maturidade. E vou além, às vezes, nas redes sociais, eu sinto exatamente isso: uma estranha saudade de casa.

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