O que fizemos do amor?
“Pobres crianças”, é tudo o que digo sobre nós mesmos.
Somos tão bonitos e tão independentes e tão cheios de certezas. Sabemos tanto sobre o que ainda não foi explicado, pensamos tanto sermos capazes de nos valer nas desgraças que ainda não vivemos, superamos qualquer coisa tão facilmente, ou assim cremos.
Pobrezinhos, nos diz a vida com um soco impiedoso.
Pensamos saber tudo sobre o amor. De tão estúpidos, até tentamos dominá-lo. Tentamos mesmo definí-lo – quanta estupidez! Ele ri pelas nossas costas.
Não precisamos de nada além de nossas taças e de nossos egos gigantescos e de nossos amores efêmeros. Nada nos atinge, pensamos.
A verdade é que estamos todos ferrados. A verdade, a triste verdade que não contamos nem ao nosso travesseiro – é que só queremos um abraço caloroso depois de um dia difícil. A verdade é que só queremos alguém que nos compreenda e nos ame, mesmo que um pouco, sem julgar os nossos defeitos inconfessáveis.
A verdade é que queremos que a vida nos trate como nem nós mesmos nos tratamos. Só queremos um pouco de sentido nessa selva de pedra. Queremos a simplicidade, é verdade, aquela que de tão pura dispensa floreios. Nós queremos ser entendidos e queremos entender o outro, mas isso dá trabalho – e não somos uma geração tão dada a tarefas trabalhosas.
Queremos amores tão fáceis quanto escolher um filme na Netflix que nos roube um pouco de toda essa loucura, mas – tolinhos – o amor não é fácil. E quando falamos de amor estamos falando, na verdade, do que nós fizemos do amor. Nós depositamos nele todas as nossas merdas – o nosso ego, as nossas fraquezas, a nossa vontade estúpida de manter o controle sobre absolutamente tudo.
Nós conseguimos, o amor está podre. O amor pediu as contas. Cansou dessas nossas certezas e da nossa resistência e de toda essa irritante falta de entrega. O amor está cansado de nossas inseguranças e nos trancou com elas em nosso próprio vazio. Nós já não sabemos enxergá-lo.
A gente só queria se proteger, é verdade, mas o amor não nos compreende. E permanece tímido, encurralado, a salvo de toda a nossa podridão egoísta. Já não podemos alcançá-lo porque – lembra? – nós nos bastamos.
E agora, o que diabos faremos com tanta autossuficiência?
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