O Van Damme salvou a minha vida – Uma conversa sobre a leveza da vida
“Para onde foi a minha leveza?”, perguntei-me, enquanto encarava o meu reflexo pálido devido à falta de sol e notava, com certo nojo, que a minha face abrigava uma expressão exageradamente severa e incapaz de rir do único pelo branco que destoava do resto do meu bigodón – cultivado somente para manter a minha pompa de pensador e para impulsionar a venda dos meus livros na França.
Quando percebi, havia me tornado, em tempo integral, um ser decididamente alérgico ao pop e a qualquer tipo de conteúdo, principalmente o televiso, de fácil absorção cerebral. Não sei quando a mutação ocorreu, mas, de repente, eu não era mais o garoto que vivia a fazer graça no fundão da sala de aula e a folhear, sem compromisso e enquanto não chegava a minha vez de cortar o cabelo, a Revista Caras. Quando notei, apenas para me sentir o mais sábio dos sábios e ilusoriamente portador do único repertório valioso, eu estava maldizendo todos aqueles – até os amigos e parentes – que não se interessavam por literatura russa e cinema iraniano.
Antes de sair de casa, como um policial sob ameaça que prende uma Glock carregada ao cinto, municiava-me de citações filosóficas que, até em jantares de família, eram usadas para tentar convencer a minha tia-avó noveleira e fã do Naldo Benny de que a nossa existência, certamente, não tem sentido algum. Até nos sonhos, acredite se quiser, a coisa ficou demasiadamente séria: o sexo com a vizinha de calcinha minúscula – situação que no passado foi recorrente em meus momentos oníricos -, deu lugar a pesadelos nos quais eu não conseguia desarmar bombas, vencer políticos em debates públicos ou convencer algum capitão covarde a permanecer no navio de casco rompido.
Os livros do Conan Doyle e a Revista Vip, aos poucos, foram sendo trocados por livros com mais de quinhentas páginas, fonte dez, sem figuras – nem na capa -, e com títulos complicados como “A dialética do ser humano em uma sociedade que não entende nada sobre a dialética do ser humano complexo”. Livros que chegavam, todos os dias, pelo correio e que, a cada página lida, faziam-me crer que eu estava deixado as trevas da ignorância. E eu estava. Porém, também estava deixando a leveza de lado.
Minhas crônicas, todas elas, evitavam falar do pão na chapa da esquina, da beleza do nascer do sol e das cômicas vezes em que a minha namorada me chama de “Cabeça de Cotonete”. Passei a escrever somente para criticar a decadência da música moderna e pelo prazer de usar metáforas que não eram compreendidas por quase ninguém – e, se quer saber, às vezes, quando as relia, também não as entendia. Nos meus textos, falava sobre a influência da cultura ocidental na desestruturação da família tradicional e sobre a religião que permeia a obra do Dostoiévski. Não que sejam temas ruins, porém, para onde foram os contos que faziam o leitor rir das coisas simples e se apaixonar pelas belezas que só exigem um olhar infantil para serem absorvidas? Sei lá.
Até que, um dia, o Telecine Cult estava fora do ar e eu, no intervalo do Roda Viva, acabei caindo em um filme chamado “O Grande Dragão Branco”. Quando vi o Van Damme na tela, logo me senti pecando mortalmente e desapontando todos os deuses do intelecto, mas algo em mim não me deixou mudar de canal. Aquele monte de socos, ossos quebrados e pontapés no saco de fácil entendimento, de uma maneira que há tempos eu tinha esquecido, relaxaram-me. Ao invés de ter que quebrar a cabeça para entender um filme que, através de alusões, criticava o maniqueísmo da sociedade, eu, simplesmente, sorri feito um idiota e, mesmo já sabendo que o bem venceria no final, torci, aflito, para que o Van Damme, apesar da cegueira temporária, vencesse o vilão trapaceiro. Vocês não têm ideia de como foi bom redescobrir o conteúdo de fácil assimilação! Até pensei em abrir um vinho para comemorar aquele festival de porradas facilmente digeríveis, porém, vinho, naquele instante, pareceu-me bebida que só harmoniza com coisas intelectuais, então, como certamente teria feito o sábio Zeca Pagodinho, eu abri a geladeira e peguei uma Brahma do meu avô. E, meus caros, eu confesso: o gosto daquela cerveja que prefere isopores a jantares intelectuais, como uma luva, serviu para que eu comemorasse, junto com o Van Damme, a suada vitória. Como assim que vitória? Você nunca viu o Frank Dux (Van Damme) vencer o Chong Li (vilão cruel e impiedoso)? Não acredito! Só falta me dizer que nunca ouvir falar de “A Lagoa Azul” e que, nem em dia de gripe inventada, comeu Amandita vendo “Curtindo a Vida Adoidado”. Só lê Nietzsche e Foucault? São caras legais, mas, de vez em quando, todos nós precisamos de uma dose de Van Damme, uma pitada de Chuck Norris, umas gotas de Rambo e de uns carros desenfreados capotando na telona. Ah, e também precisamos de alguns cachorros falantes, do primeiro amor tristemente picado por abelhas, de uma criança esquecida em Nova Iorque, de monstrinhos que não podem ser molhados, de uma improvável dupla de tiras e de um cara duro, para não dizer impossível, de matar. Por quê? Porque, às vezes, o melhor mesmo é não ter que pensar em nada além do sabor da pipoca e da hora certa para colocar a mão na coxa. Agora, meus caros, peço licença, pois preciso voltar ao filme daquele carequinha violento que, até agora (25 minutos de filme), já matou mais de 46 mafiosos russos e já desviou, para dar inveja ao melhor dos toureiros, de aproximadamente 1.345 tiros.
2 comentários abaixo sobre O Van Damme salvou a minha vida – Uma conversa sobre a leveza da vida
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