Os desapegados que me desculpem, mas companhia é fundamental

por Duda Costa

Confesso que às vezes me sinto uma estranha em meio à minha própria geração. Vejo pessoas pregando o desapego, a autossuficiência e o culto aos encantos da solidão e me pergunto, intrigada, onde eu estava matando aula quando ensinaram para essa gente toda que estar só é algo assim tão bom.

Concordo que aprender a apreciar a própria companhia é um passo essencial rumo à maturidade e ao amor próprio. Concordo que o silêncio se faz necessário vez ou outra em nossas vidas. Concordo que saber conviver harmoniosamente com o vazio é sinal de sabedoria e que estar consigo de vez em quando pode significar um alívio em tempos de superexposição e excesso virtual de companhia.

Ainda assim, confesso: eu preciso das pessoas. Preciso do cheiro delas. Preciso das vozes. Dos toques. Das risadas. Das sabedorias. Eu me alimento de companhias e é nas relações que cultivo dia após dia que encontro energia para abastecer a vida com pequenas alegrias. Eu não me basto. Eu precisei das pessoas até para aprender a ser mais feliz quando estou sozinha.

Se a solidão fosse um estado assim tão confortável, desconfio que a comunicação nem existiria. Para que pombo-correio? Cartão-postal? Telefone? E-mail? Facebook? Twitter? Skype? Facetime? Grupos no Whastapp? É… Nós definitivamente precisamos de companhia.

Quando digo isso, falo de absolutamente todas as pessoas que floreiam os nossos dias. Falo da conversa com pingado na padaria, do abraço de um amigo, do encontro inesperado com uma tia. É nas relações mais banais e corriqueiras que satisfazemos nossas necessidades diárias de contato e companhia.

Hoje, consciente das minhas fraquezas nos momentos em que me sinto de fato sozinha, eu desconfio que a autossuficiência seja uma grande utopia. Acho que é o discurso do narcisista que sonha em não precisar de ninguém para lhe trazer um bocado extra de alegria. Acho que é preciso cuidar com carinho e gratidão das pessoas que nos cercam porque sem dúvida elas também precisam das risadas, cheiros, abraços e sabedorias de uma boa companhia.

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53 comentários abaixo sobre Os desapegados que me desculpem, mas companhia é fundamental

  • Victória Monteiro disse:

    Todos nós precisamos de uma companhia. Viver sozinho é tão sem graça, você quer contar algo e não tem ninguém do seu lado ora compartilhar. Viver com pessoas e conhecê-las é fundamental para nosso amadurecimento emocional. Por isso que eu AMO me relacionar, AMO viver com alguém do meu ladoo.

    Texto excelente

  • Tatiani Carolina Monzani disse:

    “Ainda assim, confesso: eu preciso das pessoas. Preciso
    do cheiro delas. Preciso das vozes. Dos toques. Das risadas. Das
    sabedorias. Eu me alimento de companhias e é nas relações que cultivo
    dia após dia que encontro energia para abastecer a vida com pequenas
    alegrias. Eu não me basto. Eu precisei das pessoas até para aprender a ser mais feliz quando estou sozinha.” Me vi. Porque sou uma pessoa que odeia a solidão, odeio estar sozinha.

  • Thais Allana disse:

    o único desapego que eu concordo é o material…

    texto bom demais!

  • Leticia Garcia Sciarra disse:

    Acho que andaram lendo meus pensamentos! Ótimo texto!!

  • Karine Lima disse:

    Rs, semana passada entrei em uma “roda de discussão” tendo como tema o Desapego, e olha, confesso que foi bem difícil encontrar um bom argumento para contrapor minhas amigas. Por fim, repeti várias vezes – faço isso quando tenho obrigação de aprender alguma coisa – “Eu preciso de alguém”. Não que eu realmente queira alguém, e sim porque definitivamente EU PRECISO DO OUTRO. Me contradisse várias vezes, estava estampado na minha cara o que eu precisava (rimos a noite inteira com essa descoberta).
    Mas nada como um texto desses para ajudar a fixar uma ideia do tipo <3 Como sempre, Duda arrasa, tens meu respeito e minha admiração ! <3

    • Eduarda Costa disse:

      Você também tem meu respeito e admiração, Karine! Obrigada, querida ❤️ mil beijos

  • Ana Paula Sena disse:

    Não posso negar que amo ficar comigo mesma, fazer as coisas que gosto, me mimar um pouquinho… A questão é que precisamos equilibrar. Sei quando chega hora de me juntar aquele amigo que me tira risadas bobas, ou aquela amiga que me entende como ninguém, de ouvir um pouco as pessoas mais velhas. As pessoas nutrem a nossa alma.

    Duda, sabe que sou fãn! Maravilhosa como sempre.

    • Eduarda Costa disse:

      Ana Paula, minha linda, obrigada por esse carinho. Sua companhia é importante pra mim ;)

  • Olga Lima disse:

    Saudade dos seus textos *-*

  • Letícia Lopes disse:

    A solidão se faz necessária, mas as risadas e companhia das pessoas, tende a nos deixar mais alegres!!❤

  • Enide Martins disse:

    Duda… Duda… há uma necessidade de alimentar-me de seus textos… Previsões de livros minha cara???? Existe espaços em minha estante…

    • Eduarda Costa disse:

      Õ minha linda, que comentário delicioso esse seu!

      Vou planejar livro pro ano que vem, tá? :)
      Beijos beijos

  • Carolina Sweet disse:

    Incrivel esse texto!! ♥♥♥

  • Karen Guedes disse:

    Saber lidar com a solidão é bom porque em algum momento estaremos sozinhos e precisamos não nos sentir mal com isso. Mas acredito que essa cultura do desapego tem a ver com a falta de boa vontade em se dedicar às pessoas. Todos querem ser bem tratados, amados, mas não tiram um minutinho pra mandar um alô, pra perguntar se tá tudo bem, pra dizer um sinto muito. Eu acredito que qualquer relação pode dar certo quando as pessoas envolvidas estão dispostas a conviver em harmonia e não tem preguiça de se doar um pouquinho que seja.

  • Alex Fernandes Carriel disse:

    Vivemos num mundo de contradições. Prega-se em empolgantes discursos o conceito de “mundo globalizado”, conectado, mas os países fecham fronteiras, se armam e se protegem da “ameaçadora globalização”. Possuímos 2.000 amigos no facebook, mas sei lá quantos no twitter, entretanto, não conseguimos nos relacionar olhos nos olhos, não conseguimos encontrar um amor em meio a este mundo de pessoas conectadas e desconectadas ao mesmo tempo. Estamos perdendo a primeira e mais importante característica humana, a qual transformou o status do homem de “animal irracional” para “animal racional”; A linguagem humana, aquela que une pessoas, transmiti conhecimento e faz a humanidade evoluir. A linguagem em pauta atualmente é a tecnológica, sendo esta fria e distante da subjetividade humana. Pessoas de verdade, físicas e olhos nos olhos fazem falta. Parabéns pelo artigo.Quero ler mais. Ótimo

    • Sandra CArvalho disse:

      Concordo contigo…

    • Fernanda Cintra disse:

      Disse tudo! !

    • Lucas Ataide disse:

      falou muito e falou bonito! bela critica!

    • Reinaldo disse:

      acho que ninguem quer cultuar o desapego, acho que e mais um mecanismo de defesa contra as pessoas que tem o dom de atrair boas pessoas, amigos e relaçoes, que tem sorte..quando a pessoa certa nao esta aparecendo de jeito nenhum voce começa a criticar a companhia do outro, a felicidade do outro,,precisamos controlar nossa solidão pra nao falar e fazer besteira..parar de olhar pra ela como o grande vilão..pra muitas pessoas ela vai estar sempre ali, mesmo se encontrar alguem.

  • Carol Dias disse:

    Muito bom o texto, mas acredito que o desapego que essa nova geração abrange, não é exatamente o fato de estar isolado de todo e qualquer companhia, viver literalmente na solidão. O desapego que eles pregam, é no quesito amor, não de amigo ou família, é de encontrar o amor da vida, se dedicar a outro alguém inteiramente, e o fato de beijar inúmeras bocas sem rostos, e não ter sentimento por nenhuma delas.
    sob-crescer.blogspot.com

    • Também penso assim ,vejo as pessoas cada vez mais sozinhas,frias, sem sentimento nenhum . Estão vivendo de curtição , cada dia (noite) ou semana uma pessoa diferente,sem ter a intenção de compromisso algum .E meu sentimento é de pena destas pessoas, porque na maioria delas acabam: casando sem sentir um verdadeiro AMOR, construindo um lar totalmente desistruturado, outras se viciam ,se prostituem ,e outras passam sua vida assim só de curtição, e sei q quando estarem já na idade avançada,sentiram falta de um abraço, beijo ,carinho e amor verdadeiro .

      • Carol Dias disse:

        Sim, se tornou a geração da curtição, todo mundo só quer se “divertir”, sem compromisso. Claro que isso é uma opção de cada ser humano, mas acho que isso é principalmente na fase adolescente e no início da fase adulta, depois com o chegar da idade, eles vão aprender a se dedicar ao amor e ver o quanto viver em função de uma paixão, também é saudável, pelo menos assim espero.
        sob-crescer.blogspot.com

      • Big_Dog_Brazil disse:

        E como não se tornar frio num mundo onde a fofoca e a curiosidade pela vida alheia cada vez mais é o assunto das rodas de conversa?

  • Pedro Aurelio Pires Maringolo disse:

    “Autossuficiência” é mesmo uma utopia mórbida, que não se confunde com “independência”, que é depender de si e não dos outros… Parabéns de novo, Duda, por mais um texto caprichado…

  • Thallys Varella disse:

    Josiane Rocha!

  • Thais Fernandes disse:

    lindo lindo lindo! sou exatamente assim!

  • Guibson de Oliveira disse:

    Casa comigo, Eduarda!! <3 Sei cozinhar.

  • Saulo Brito disse:

    Perfeito seu texto, compartilho do mesmo pensamento.

  • Sandra CArvalho disse:

    780% de identificação com o tema, delicioso por sinal. Também preciso de pessoas queridas para me sentir mais humana, mais…pessoa. Amei o texto!

  • Matte. disse:

    “Acho que é preciso cuidar com carinho e gratidão das pessoas que nos cercam porque sem dúvida elas também precisam das risadas, cheiros, abraços e sabedorias de uma boa companhia.” É isso aí! :)

  • Nadhia Dantas disse:

    Que texto maravilhoso Duda! Você arrasa sempre! Linda! <3

    • Eduarda Costa disse:

      Nadhia, minha querida, sua aprovação é muito importante pra mim. Fico feliz demais por você ter gostado. Mil beijos, minha linda ❤️

  • Dazed in Galway disse:

    Nos dê exemplos de onde você vê pessoas pregando o desapego, a autossuficiência e o culto aos encantos da solidão. Fiquei curiosa! Leio artigos sobre desapegar de pessoas tóxicas, não de todas as pessoas. Leio artigos sobre autossuficiência como modo de auto-empoderamento. É uma autossuficiência em relação à sobrevivência, a saber cuidar de si sem depender de outra pessoa. Isso não exclui um outro ser na sua vida. Pode-se amar sem apegar. Apegar no sentido de grudar. Amo meu marido e vice-versa, mas não somos apegados/grudados. Fazemos coisas separados às vezes.

    Finalmente, culto à solidão só segue quem concorda. Há pessoas que preferem viver sozinhas, fazer o quê? Só não vejo isso como algo que venha sendo pregado. O que você anda lendo?

  • Lucas Dartagmam disse:

    Eduarda Costa, belas palavras, muito bom…

  • Marcus Sousa disse:

    Me sinto bem em não participar de nada. Me alegra não estar
    apaixonado e não estar de bem com o mundo. Gosto de me sentir estranho a
    tudo…”

    “Tudo o que era mau atraía-me:gostava de beber, era
    preguiçoso, não defendia nenhum deus, nenhuma, opinião política, nenhuma ideia,
    nenhum ideal. Eu estava instalado no vazio, na inexistência, e aceitava isso.
    Tudo isso fazia de mim uma pessoa desinteressante. Mas eu não queria ser
    interessante, era muito difícil.”

    “Nunca me senti só. Gosto de estar comigo mesmo. Sou a
    melhor forma de entretenimento que posso encontrar.”

    “Não, eu não odeio as pessoas. Só prefiro quando elas
    não estão por perto.”

    Charles Bukowski sabia das coisas. Solidão é um presente, todo o resto é um
    teste da sua resistência, de quão forte é a sua vontade.

  • tesllla disse:

    não generalize as suas necessidades, você não é o umbigo da sociedade.

  • Eduarda Costa disse:

    Obrigada, querida ❤️

  • Quéren Rezende disse:

    Muito bom seu texto, e é exatamente com o outro em que aprendemos a ser melhores, precisamos sim apreciar a nossa própria companhia, mas ainda precisamos uns dos outros! Realmente alguns pregam o desapego ao beijar inúmeras bocas, vivem de uma curtição sem fim, mas vejo mais como uma não disposição a se doar, e de não querer proporcionar de verdade o amor! “Acho que é preciso cuidar com carinho e gratidão das pessoas que nos cercam porque sem dúvida elas também precisam das risadas, cheiros, abraços e sabedorias de uma boa companhia!” Muito bom seu texto! Parabéns Eduarda Costa!

  • David Garcia disse:

    disse tudo mesmo..!

  • Belton Sena disse:

    Procede, companhia é tudo, os bons tempos tem de voltar e vamos curtir novamente :D

  • Gabriela Rosa disse:

    Adorei o artigo! Linodoo

  • Elison disse:

    Qual é essa geração que está pregando isso que ela diz? Onde? Eu nunca ouvi falar desse movimento pró-solidão. Alguém aqui já? oO
    Eu apoio o desapego, mas desapego às convenções. Apoio a autossuficiência, mas a autossuficiência alimentícia/energética.

    Pra tudo tem um momento, tanto pra estar sozinho quanto pra estar acompanhado. Sou a favor da independência, mas não da solidão! Sou a favor de a minha vida estar nas minhas mãos, não nas mãos de outra pessoa, mas isso não significa que eu não deseje compartilhá-la.

    E cá entre nós, ter companhia é muito mais seguro se você eventualmente tiver, por exemplo, um AVC rsrs

  • Kellen Rodrigues disse:

    Na minha adolescência estourou o papo de autossuficiência, independência e boa solidão. Eu, boba e inocente, entrei nessa onda e por isso perdi boas companhia, tanto em amizade quanto em namoro. Tudo por não saber dosar. Hoje, aos 20 anos, entendo de a “lei do desapego” tem sido mal interpretada por muitos e acabou se tornando um estido de vida. Ninguém quer se responsabilizar no amor. Eu não quero isso para mim, que mais é me apegar, porém da maneira mais saudável e leve que possa existir. Quero mesmo é estar com boas pessoas! Parabéns pelo texto, Eduarda.

  • Daniel Sanches disse:

    Cansativo e mania de brasileiro. Socializar de mais cansa. Relações cansam e desgasta qualquer um. Seja patrão e empregado, marido e mulher .. etc. A era digital nos convida a uma nova forma de atuação na vida.

  • Maurício de Souza disse:

    Pensei que eu era espécime de extinção kkkk. Todo mundo tem seus momentos consigo mesmo mas a interação é fundamental, e nada mais interativo do que o olho no olho, a janela da alma. Pelo que percebi as pessoas que tendem a não se apegar têm mais medo do que uma ideologia propriamente dita. Basicamente desilusões e muitas vezes até autossabotagem fazem algumas pessoas preferirem a solidão a um sofrimento que na maioria das vezes é apenas hipotético. Porém, Vivo a tempo demais neste mundo para recriminar alguem, limito-me a respeitar a opinião dos outros e expressar as minhas, talvez seja esse o motivo de concordar com esse texto, vai saber kkk.

  • Ella Jardim disse:

    Que texto MARAVILHOSO!
    Eu concordo com 100% do que você disse.
    Fui criada por meus avôs, então a maior parte dos amigos de família são da geração deles, que não estão acostumados a usar nada tecnológico. E, olha! Acho maravilhoso poder conversar de verdade com os amigos deles. Eles têm tanta coisa boa pra contar, e a melhor parte: eles não ficam olhando o whatsapp de 5 em 5 minutos <3
    Eu fui acostumada com isso, sabe? Conversar, olhos nos olhos, comemorar ou chorar junto com a pessoa e não através de um palavras virtuais que nem sempre passam o real sentimento.
    Sou apaixonada por ouvir histórias, por conhecer pessoas, mas hoje em dia tá muito difícil porque elas vivem dentro de seus casulos e parecem que tem preguiça de sair de lá, sabe? De mostrar que são gente também…
    Enfim, eu amei o texto, principalmente porque vi que eu não sou a única que me sinto estranha na minha própria geração, como você disse :')

    Beijão,
    Ella J.

  • Bruno Diego Cruz disse:

    Leio textos e mais textos em diversos blogs etc… Não lembro de algum que eu concorde tanto quanto este seu, já li umas três ou quatro vezes e não há uma silaba nele onde eu não tenha a enorme vontade de te abraçar sem mesmo te conhecer, é perfeito! muitos aplausos, de pé!!!