8 pensamentos que só viajantes que não querem voltar pra casa entendem
“Viajar é bom, mas voltar para casa é ainda melhor”
Não, não. Desculpa, mas não consigo entender isso. Tanto faz se estou voltando da praia do Rosa, de Recife, de Paris, de Hong Kong, o processo de voltar para casa é sempre uma mistura de sentimentos. Funciona exatamente assim:
1 – No Uber a caminho do aeroporto
O motorista muito prestativo está procurando o terminal para desembarcar do carro. Ai ele solta a dolorosa pergunta: “qual a sua companhia?”
E desabo a chorar: “moço, eu não tenho companhia, eu vou sozinha de coração partido e estou deixando tudo que eu me apaixonei nesses seis meses para trás.”
Ele muito paciente só me responde: “então é a TAM?”
2 – Na hora de despachar a bagagem
Estou sentada no meio das minhas cincos malas – meu Deus quem precisa de cinco malas? – quando finalmente sou chamada para despachá-las. Nesse momento passa um filme na minha cabeça com cada um dos badulaques e objetos que construíram minha vida nos últimos seis meses.
Despacho as malas e começo a me perguntar se vou precisar dessas bugigangas um dia. Aí cogito seriamente em desistir de voltar para casa. Quer saber? Danem-se as malas, elas que voltem sozinhas, não preciso de nada daquilo, vou ficar por aqui mesmo.
3 – Na hora do embarque
Ok, me convenci a entrar na sala de embarque. Meu voo está atrasado. Claro. Enquanto todos os passageiros se descabelam e choram porque chegarão mais tarde em casa, meu único pensamento é uma espécie de torcida. Eles bem que podiam atrasar umas três horas esse voo, afinal são mais três horas longe de casa. Ou melhor, eles podiam atrasar um dia este voo assim eu fico mais um dia aqui. Ou melhor ainda! Eles podiam cancelar este voo para sempre e eu não teria outra opção a não ser ficar aqui para sempre. Talvez meus amigos de infância e minha avó venham me visitar de navio um dia.
4 – O voo atrasou só meia hora e é hora de embarcar
Entrando no avião percebo que o voo está lotado, tem gente pra todos os lados, um caos. E lá vem aquela última esperança: talvez não caiba todo mundo neste avião. Bem que podia dar overbooking. Eu super seria voluntária para desembarcar.
Mas claro que isso não acontece porque a companhia aérea é séria e faz seu trabalho de maneira competente. Chatos!
5 – Durante o voo
Escuto aquele monte de família ansiosa pra voltar pra casa levando todo e qualquer tipo de bugiganga: miniatura de torre Eiffel, berimbau, copos plásticos daqueles hotéis resorts em Cancun e também muitas bolsas Michael Kors. Todo mundo viaja meio empilhado e tem um bebê chorando o tempo inteiro. Ótimo. O choro deste bebê vai acabar disfarçando o meu. Se alguém me ouvir chorar, eu boto a culpa nessa criança.
6 – Pegando as bagagens (ou torcendo para elas não chegarem)
Chegam as malas de todo mundo menos a minha. Tudo bem. Ótimo! Se as bagagens não chegarem eu com certeza falo para a companhia áerea que volto buscar pessoalmente minhas coisas. Eu não queria vir pra casa, mas vim. E elas ficaram lá. Tudo bem vou atrás delas.
Mas aí as malas aparecem na esteira do aeroporto. Filhas da mãe. Elas chegaram em perfeita ordem.
7- Tentando abrir a porta de casa
A parte mais difícil. Já não sei mais qual chave funciona nessa porta, afinal, nesses meses acumulei tantas experiências novas que estes detalhes foram quase apagados da mente para dar lugar às memórias da sensação de terra molhada nos pés depois de conhecer a Amazônia, ou das noites quentes na Califórnia, ou das milhares de inspirações coletadas em Paris. E sabe o que? Deixei o meu coração em cada um dos lugares por onde passei. Por isso essa porta, antes tão velha conhecida, já não se abre com tanta facilidade para mim. Ela não mudou, mas eu mudei. E agora sou apenas um hóspede na minha própria casa.
8 – Os primeiros dias em casa e a certeza de que “lar” não é um lugar específico
Aos poucos vou me adaptando ao estranho e familiar apartamento, mas não consigo mais chamá-lo de lar. Depois de percorrer milhas sem nunca ter me sentido “longe de casa” percebo que “lar” não é um lugar específico com endereço e código postal.
Lar é um lugar no coração. Clichê, mas verdade pura. E só pra lá consigo voltar. E lá vou eu começar tudo de volta, comprar passagens de avião, de ônibus, de navio, caronas em caminhões ou bicicletas. Qualquer coisa que me faça lembrar que meu lar é a viagem em si, é a caminhada. A minha casa é algum lugar entre chegadas e partidas, entre o oi e o adeus.
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