Por que você não pode – e não deve – se adaptar
Adaptar-se é questão de sobrevivência no mundo moderno. Adaptar-se ao novo emprego, aos novos amigos (ou aos antigos, em seus devaneios e desacertos), às novas experiências que se agregam à nossa vida, sem que nem mesmo tenhamos controle. Receber as mudanças de braços abertos e estar preparado para elas é não apenas necessário, como também admirável.
A adaptação da qual, particularmente, sou inimiga declarada, é a adaptação às regras impostas, de qualquer natureza que sejam. Adaptar-se ao que está posto nos limita, nos oprime, nos impede de crescer e de fazer, por nós mesmos, o mundo que queremos.
Se Simone de Beauvoir tivesse se adaptado, nós, mulheres, provavelmente ainda estaríamos passando todos os dias de nossa vida bordando e lavando louça, enquanto nossos maridos tomavam as decisões por nós. Se Nelson Mandela tivesse se adaptado, muitos negros ainda estariam humilhados e subjulgados. Se Gregório de Mattos tivesse se adaptado, só conheceríamos poesias enfadonhas sobre as flores e o amor – não saberíamos falar de sarcasmo e sensualidade em versos cheios de sintonia e musicalidade. Nossas mentes e ouvidos também teriam se adaptado à mesmice até então vivenciada.
Todas as mudanças expressivas experimentadas pela humanidade foram fruto da não-adaptação. Nada foi conseguido sem sangue e suor. Sem discordância e ousadia. Nada surgiu da mediocridade daqueles que se limitam à adaptação, como forma de permanecerem, eternamente, na irritante zona de conforto.
Por isso – não apenas, mas principalmente por isso – eu me recuso a adaptar-me. Quero aquilo que transcende o óbvio e transparece a coragem de dizer o que muitos pensam que não devia ser dito, embora seja, talvez, verdade inegável.
A verdade, aliás – não a verdade de todos, mas a minha, com a qual você tem o irrenunciável direito de não concordar – é que o mundo busca conveniência em vez de franqueza.
Todos nós sabemos exatamente o que dizer, mas nos calamos diante das possíveis represálias, dos dedos que provavelmente nos serão apontados, sem nenhuma dó.
Acontece que tudo, absolutamente TUDO o que você fizer ou disser te renderá algumas críticas e dedos ferozes em sua direção. Não importa o quão conveniente te pareça, para muitos não o será. Eis, portanto, mais um belo motivo para não se adaptar.
A franqueza e a originalidade genuína têm um preço – caro, a depender do ponto de vista. Mas vale muito a pena: Você tem o inenarrável prazer de ser você mesmo e, de brinde, ajuda o mundo a caminhar.
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