Por um mundo com mais calças leggings
Pedi mais uma garrafa de Original ao garçom gentil e, enquanto a anestesia gelada não vinha, deixei uma pergunta no ar cheio de nicotina daquele boteco aparentemente giratório. Questionei: “Para vocês, meu caros, qual foi a maior invenção da humanidade?”. Testas rapidamente ficaram enrugadas, as mãos logo pousaram nos cavanhaques desgrenhados que ali coexistiam e o silêncio, abruptamente, foi interrompido pela primeira resposta. “Com certeza foi o avião.”, disse um dos alcoólatras funcionais que ali estavam. Sim, foi uma resposta sensata. Fizemos um sonoro brinde em homenagem ao Santos Dumont.
A segunda resposta não demorou muito e, sem pestanejar, um amigo gritou dizendo que nenhuma invenção tinha sido mais importante do que a roda. Consentimos em silêncio, afinal, não podíamos negar a imensa funcionalidade daquela forma simples. A terceira resposta veio de maneira teatral. Ele levantou, cambaleou levemente para esquerda, apoiou na parede engordurada e, com a voz mais fofa do que a usual, disse: “Foda mesmo é o Thomas Edison, afinal, sem ele estaríamos no escuro ou eternamente dependentes do fogo.”. Ninguém ousou duvidar da afirmação feita por aquele bêbado camarada. Fizemos mais um brinde.
Então, antes mesmo de pedir mais uma gelada ao sábio garçom, resolvi dar a minha resposta. Estava prestes a dizer que o maior invento até aquele dia, havia sido o computador, mas olhei bem para meu lado direito e, dentro da uma academia lotada, eu enxerguei algo mais importante do que tudo aquilo que havíamos dito ali. Ela tinha cabelos longos, seios perfeitos e empinados como um sapatinho de Aladim e mais, muito mais, usava bem colado ao corpo, aquilo que a meu ver, é o mais “fodástico” invento da humanidade: a calça legging. Peço desculpas ao Santos Dumont, ao Thomas Edison e ao povo que inventou a roda há mais de cinco mil anos atrás, mas nada no mundo supera a genialidade de uma calça legging. Nada. Imagino-me vivendo à luz de velas, em um barco, enfrentando maremotos para me deslocar pelo globo sem o auxílio do avião e fazendo um esforço do cão para suprir a falta da roda, mas morreria se, porventura, algum dia as calças leggings fossem proibidas.
Seria pior do que qualquer abstinência e olha que eu já larguei o tabaco algumas vezes! Mas nunca largarei o amor incondicional que sinto a cada vez que vejo tal vestimenta. Aquilo sim é um tecido capaz de fazer o pensamento feliz. Sempre que entro em uma academia, é como se estivessem aplicando heroína em meus olhos. É mais lindo do que o nascer do sol. É um elogio homérico às formas mais “tesônicas” da mulher. É uma massagem visual no meu pênis. Se eu pudesse, faria academia de óculos, admito. Aliás, só pela calça legging, eu consegui frequentar uma academia por mais de seis meses. Meu bíceps não cresceu nem um centímetro, outra coisa sim, crescia a cada vez que via uma nádega maliciosamente coberta por uma calça linda daquelas. Passava horas Fazendo flexões bem rentes ao solo, só para esconder o efeito que as calças leggings provocam em mim. A calça legging é mais tentadora do que a maçã foi para o Adão e, tenho certeza que tal fruta nem seria comida se a Eva estivesse dentro de uma legging enfiada a vácuo. É a mais perfeita harmonia entre o exposto e o coberto. Todos naquela mesa concordaram com a genialidade da calça legging e, até hoje, estamos tentando descobrir o inventor de tamanha alegria. Ele merece uma estátua, ou melhor, um desfile inteiro só de calças leggings.
Fato1: Não tenho nada contra as calças jeans.
Fato2: Certa vez, entrei com o carro dentro de uma padaria. Quase atropelei o padeiro. O policial chegou e logo quis fazer o teste do bafômetro. Pedi desculpas e expliquei ao homem fardado que havia me distraído com uma calça legging. Nem multa tomei, pois aquele tecido é unânime. Nunca bati o carro olhando aviões, rodas ou lâmpadas, mas corro sérios riscos quando encontro uma legging por aí.
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