Quando diz que vai, deveria ir
Quando diz que vai, deveria ir. Mas na verdade nunca vai. Não como deveria. Diz querer ir, mas nunca deixa de ficar. Fica ali, impondo cercadinho, achando que ainda tem alma doce, como se fosse só entrar, abrir a geladeira e me beijar a boca. Tudo isso como se a porta ainda estivesse aberta, ou como se eu ainda morasse lá…
A verdade é que hoje eu não tenho mais dó, e repleto de certezas assentidas, estendo meu direito de querer ficar a sós com meus caprichos e eletricidades. Pois, inevitavelmente, um dia a gente cansa de ser para-raio dos excessos alheios.
Mas não quero desfecho ruim como herança. Muito menos rodar as horas para trás. Mesmo quando eu sentir cheiro de alma doce e perfume familiar.
Talvez tu possas entender. Mas se isso não acontecer, não importa. Preciso construir futuro, para depois julgar o passado. Preciso dessa oportunidade que a vida nos dá de amadurecer e, sempre que possível, rir depois. Pois com tempo aprendi que rir do passado é aceita-lo com o coração.
Então hoje, para o azar de algumas mulheres, ando nu. De corpo e de espirito. Surpreendo o sol, mas também me enlaço de silêncio e escuro. E assim, sem me preocupar com o amanhã e suas rotinas, grito que esse coração, repleto de brotares de novas paixões, sabe que o entrelaçar das pernas não cabe mais a nós.
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