Relacionamento aberto, pero no mucho

por Léo Luz

– Ok, amor, então de agora em diante nós temos um relacionamento aberto.
– Ok, combinado. Fechado!
– Tá.

– Mas como vai ser?
– Como vai ser o que, André?
– Isso, de relacionamento aberto e tal, a gente tem que acertar os detalhes.
– Que detalhes? A gente não tá comprando uma multinacional, não tem que “acertar detalhes”.
– Claro que tem! Quer ver um exemplo? Quando a gente ficar com alguém, tem que contar pro outro?
– Sei lá, pode contar, pode não contar. Tanto faz.
– Mas se mentir não é relacionamento aberto, é traição.
– Então tem que contar.
– E você não vai ficar puta se um dia eu me atrasar para o jantar porque to comendo a minha secretaria?
– Você tá comendo a sua secretaria, André?
– Ainda não, mas agora vou comer.

– Viu, você já tá puta e eu nem comi ninguém ainda!
– Eu não tô puta, você que tá me irritando.
– Não tô irritando, é sério! Imagina você não poder levar o Rex para passear porque tá com o joelho ralado de dar pro seu personal trainer dentro do Fiat Uno 92 dele?!
– Ué, pode acontecer! É um relacionamento aberto, agora, você não queria assim? E o carro dele é uma SpaceFox, o banco de trás abaixa todo.

– Que foi? Agora você que ficou putinho?
– Não tô putinho, tô tentando organizar isso e você fica de deboche.
– Claro, você tá aí cheio de regras! Parece que vai escrever a Constituição dos Relacionamentos Abertos!
– Ok, quer outra prova da necessidade de regras? As pessoas podem saber?
– Saber do que?
– Dos nossos casos?
– Sei lá.
– E se uma amiga sua me vir saindo do Motel com alguém?
– Que que tem?
– Ela vai te contar. E você vai fazer o que? Vai fingir que ficou puta ou vai falar “é que agora nós temos um relacionamento aberto”
– Vou falar a verdade.
– Ah, é? E se for a sua mãe? A sua irmã?
– Ah, sei lá, André, a gente tem um relacionamento aberto faz dois minutos e eu já tô quase desistindo!
– Ué, mas tem que ter regras! Não é bagunça!
– Pelo contrário, a ideia é exatamente ser bagunça. Se não fosse bagunça teríamos continuado num relacionamento normal.
– Mas até bagunça tem que ter regra. Por falar nisso, uma regra minha: você não pode dar pra ninguém com o pau maior que o meu.
– Tá de sacanagem?
– Não.
– Então eu só vou poder dar pra crianças de nove anos!
– Engraçadinha…
– Não, essa regra eu não aceito. Eu dou pra quem eu quiser, com o pau do tamanho que eu quiser.
– Não! Senão você vai ficar dando pra esses caras bem dotados e não vai querer mais dar pra mim!
– Ok, combinado. E você também não poder comer ninguém com os peitos maiores que os meus nem com a bunda maior que a minha!
– Mas você é magrinha! Até eu tenho a bunda maior que a sua!
– Problema seu, olho por olho, dente por dente.
– Porra, aí não vai ter graça. Eu tava sonhando em comer aquelas estagiárias gostosonas novinhas cheias de hormônio de frango com aqueles peitos enormes e convidativos!
– Vai ficar querendo.
– E quanto a contar, melhor não contar não. Não quero esse tipo de conversa na mesa do café, nem você chegando em casa cansada reclamando porque o seu chefe é insaciável e você não aguentava mais.
– Tá.
– Então ficamos assim: sem contar um pro outro.
– Tá, mas e se outro perguntar? Tem que mentir?
– Sei lá.
– Mas se mentir vira um relacionamento normal, e passa a ser traição, como eu já disse.
– Então não tem que contar, só se o outro perguntar.
– Mas pode perguntar?
– Ué, pode, né?! E se perguntar tem que falar a verdade!
– Ok, combinado.

– Mas e se eu não perguntar especificamente isso, se eu perguntar por que você chegou em casa tarde? Eu não perguntei se você deu pra alguém, só perguntei por que você chegou tarde
– Vamos criar um código: quando alguém perguntar algo que a resposta seja essa, o outro responde só: “o túnel tava cheio”, aí o outro já sabe que é isso e não pergunta mais.
– Não, isso de túnel cheio tem muito duplo sentido. Eu vou ficar imaginando lá o cara enchendo o seu túnel.
– Ah, André, porra, então não pergunta nada e ponto final!
– Mas eu vou ter vontade de perguntar…
– Então pergunta e eu digo! Eu digo que cheguei tarde porque tinha fila no Motel ou porque o Alex da contabilidade é um atleta e tem fôlego de um maratonista sendo perseguido por um bando de lobos famintos.
– Você conhece mesmo o fôlego do Alex, hein…
– Ouvi falar, mas agora vou comprovar.

– Amor, vamos deixar isso pra lá então, não vai dar certo.
– Você que sabe, foi você que insistiu pra isso.
– É, mas é melhor não. A gente nunca vai se entender com essas regras.
– É, melhor.

– Aliás, amor, você leu o meu Livro de Regras pra gente ir na casa de suingue?
– Tô terminando, tô na página duzentos e sessenta.
– Oba!

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  • beijando com pegada disse:

    muito bom seus post … parabens vou acompanhar seu blog sempre ja esta nos favoritos