Saudade da tua nuca
Saudade de te despir, de beijar sua nuca que me pede tanto de volta. Me pede e, até me olha como quem diz que nunca recebeu beijo de boca mais sedenta. De mãos tão firmes. De barba tão cerrada. Nos pedimos de volta; o amor nos olha de longe, mas até ele sabe que correr contra o tempo é um descartar de dias.
Hoje, infelizmente, você não desce a rua, não te vejo nua e nem escuto: sou sua. Brinco de colecionar colheres de madeira, faço ovos mexidos com creme de leite da feira perto de casa e compro tapetes coloridos em ponta de estoque. E, nem isso, mata a minha vontade de te ver pela cidade à procura de um amor melindroso que deslinda molduras que já foram nossas.
Não, eu não vivo com dramas cheios, mas teço entre saudades momentâneas momentos memoráveis de longa espera. Vivo te amando, mesmo conhecendo outros beijos em nucas tão macias, e gostosas, quanto a sua. Perambulo e acredito na minha ingenuidade, me perco na vontade e lembro que tudo isso é só, saudade.
Então, continuo a nadar – como aprendi com a Dory – e, se por uma vicissitude da vida, eu esbarrar em alguém que me olhe com a nuca, irei sorrir e continuar nadando, pois sei que nuca tão gostosa quanto a sua… Ah, essa não pode e, nem deve existir.
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