Saudade de quando você esquentava meus dedos
Foi bem estranho, hoje, quando você me desejou boa sorte. Uma frase quente envolta no maior frio do mundo. E eu congelei de tanto calor. Uma onda daquele calor que corava nossos rostos quando, de repente, sem explicação, estávamos nos pegando como nos velhos tempos, até meio novos.
Em dois segundos, vi alguns anos. Meses, talvez. Lembrei de quando você disse que me amava e eu não quis aceitar como uma pessoa tão simples e tão singular poderia amar alguém tão complexa e igual como eu. Congelei. Aquele cinema, aquelas trufas. O café que derreteu meu frio, enquanto evaporava de tanto calor. Derreti ao lembrar a frieza das nossas discussões, sempre fervorosas. O meu café quente, o seu leite gelado.
Senti, por um instante só, a sua mão. Era você quem esquentava meus dedos. Aliás, quando ela congelava, você vinha com a maior paciência do mundo e encaixava sua mão na minha. E a gente andava de mãos dadas por um mundo derretido. Os indestrutíveis degraus sempre quebraram meu gelo.
A fumaça esquentava a temperatura amena do parque, e eu lembrei da sua cara de culpa, que devia ser parecida com a minha cara, que um dia foi de culpa. Dois culpados quentes, sem querer se deparar com uma realidade que congelava. Era uma coisa meio louca. Quando eu queria te ferver, você congelava. E vice-versa também. Nossa temperatura nunca foi mesmo muito amena.
O calor da vida planejada que você tinha pra nós, não conseguiu derreter a frieza da minha falta de perspectiva. A frieza da sua falta de adeus, essa sim, fez minha cápsula de proteção virar uma poça d’água quente, que você se divertiu ao congelar novamente. Nessa sublimação eu simplesmente deixei de existir.
Você me desejou boa sorte e bateu a porta. Mas a janela se manteve aberta. Assim como essa história estranha e quente, que a gente pode querer congelar o tempo todo, mas lá no fundo sempre derrete de tanto calor.
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