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Só o (meu) amor me importa
Não conto história alheia não, moça. Só sei desenhar as minhas. Só traduzo o que sofri. Só revivo o que sinto, como quando o meu coração desmontou de tão aguado. De tão abatido. Coração fraco.
Você me pede que agrupe palavras para narrar o seu amor, mas eu não sei fazer isso não. Ignoro amores além da janela. Esnobo seus ruídos. Amores tontinhos. Só me interessam os corpos que alcancei e os olhares que perdi. Só há beleza quando sobro. Só há palavras quando meus sonhos se despedem de mim. Ou desaparecem sem telefonema, sem post-it na geladeira.
A sua história não comove a minha vontade de popular telas em branco, moça. As suas lágrimas sou incapaz de escutar. Meu caderno é egoísta demais para abrigar amores que não me pertencem. Não me odeie não, moça. Mas é que ultimamente a falta dele tomou conta de todas as minhas páginas. E enquanto meus livros deixam de cheirar a livros, porque cheiram a dias com ele, eu não posso falar de você. Só posso rabiscar por mim. Tentar decifrar o que querem as borrachas, que passam à força por cima das minhas paixões, me obrigando a apagar o que vivo e que está bom. A mentir que não me importo. Que não gosto. Gastando dias inteiros com lembranças. Escondendo carências. Por isso, moça, me entenda. Seu romance é livro na estante. E essa minha tristeza, a única coisa na cabeceira.
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