Sobre o tempo – Ou a falta dele

Você já deve ter tido a impressão de que o tempo para os outros passa mais devagar. Que eles têm tempo de fazer mais coisas. Que os seus dias correm, as noites também e não há tempo para aproveitar, para se deleitar com tudo o que a vida pode oferecer. Todo mundo passa por isso.

No último final semana fui até a casa dos meus avós. Já na primeira vez que fui buscar água, fiquei extremamente agoniada com a demora do filtro para encher o meu copo. Esbravejei várias vezes, perguntei se não tinha como acelerar aquele processo. Depois percebi: não é o tempo daquela fina linha de água que está devagar. É o nosso que está acelerado.

A música é um excelente exemplo disso. Quando foi a última vez que você sentou no sofá, na cama ou no chão para ouvir uma canção? Sem computador, sem TV, sem conversa. Dedicar tempo a saborear versos, voltar, ouvir de novo, sorrir, deixar que ela te cause boas lembranças ou verdades doídas?

Impossível, não é? Não dá tempo. Tem trabalho, faculdade, escola, família, amiga que terminou com o namorado, cuidar da casa, dar carinho para o gato, assistir aos filmes que todo mundo fala pra não ficar fora do assunto, ver ou ler o jornal. O dia ficou curto ou mudamos as nossas prioridades?

“Meu mundo é hoje, não existe o amanhã pra mim” (Paulinho da Viola interpreta canção de Wilson Batista)

Trabalho com jornalismo e nessa área, o tempo é ainda mais confuso. Uma repórter de TV com quem convivo bastante, costuma chegar para suas entradas ao vivo só 10 minutos antes (geralmente, outros profissionais adotam o triplo desse tempo). Enquanto, para o entrevistado – que está lá há meia hora, esperando para falar – aquela hora não chega nunca, para ela, dois ou três minutos são tempo mais do que suficiente.

Outro dia, numa destas situações, ela, ao ver a minha cara de desespero com os ponteiros do relógio, me olhou calmamente e disse “calma, Marina. Ainda faltam 20 segundos”. No tempo dela, daria tempo. No meu relógio, já era momento de desespero. Deu tudo certo, e perdi tempo com as minhas preocupações.

“Todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou. Mas tenho muito tempo: temos todo tempo do mundo” (Legião Urbana)

Perdemos muito tempo pensando em como não temos tempo. Nos preocupando com coisas tolas, atualizando redes sociais, tentando saber de todo mundo sem dedicar alguns minutos a saber de nós.

Lá na casa do meu avô, quando a torneira do filtro de água me estressou e eu percebi que poderia “perder” aquele tempo – simplesmente porque não tinha outra coisa para fazer se não conversar, ouvir, contar piadas e relaxar – fui obrigada a pensar como somos tolos.

Quem faz o relógio da nossa vida são as prioridades que escolhemos para serem nossas. Acelerar pequenos prazeres para perder tempo com preocupações não faz ninguém feliz. Vou tentar aplicar isso a minha vida. Vamos você também? Mas isso é questão de tempo, claro.

OBS: Vamos começar ouvindo essas canções sobre o tempo prestando atenção nelas e não no resto do mundo? Eu fiz isso escrevendo para vocês.

“Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos… tempo, tempo, tempo tempo” (Djavan interpreta canção de Caetano Veloso)

http://youtu.be/Tgh72liyEWM

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