Somos todos bichos tentando disfarçar o instinto
Pareço um bom rapaz. Acordo bem cedinho e, antes mesmo do sol dar as caras, visto o figurino bem passado do homem que na maior parte do dia, finge ser mais um cordeiro comportado. Bato ponto. Sigo regras. Guardo falas. Aceito, sem espernear, as rédeas necessárias para não chocar a sociedade sempre tão sensível aos reflexos naturais do instinto humano. Confesso: não é difícil pentear o cabelo de lado ou fazer a barba, diariamente, bem rente. Até o laço no pescoço, também conhecido como gravata, eu aprendi a encarar sem medo da potencial asfixia.
Tenho controle de quase tudo. Domino o tempo graças aos ponteiros que vão muito além do meu pulso. Governo meus caminhos e nunca me perco nas tantas ruas, cinzas e iguais, pois possuo um GPS. Tenho controle de quase tudo, só não aprendi a domar meu próprio corpo quando estou possuído pelo tesão. Quando estou com sono, tomo um litro de café. Quando estou com sede, seco alguma fonte. Quando estou com raiva, conto até um milhão. Quando estou gordo, dou um pé na bunda da coxinha. Quando estou magro em demasia, tento explodir o estômago em algum rodízio.
Mas quando estou com tesão, dominado pela minha faceta mais animal, deixo o volante nas mãos dos meus instintos. Tento retomar os pensamentos sóbrios, pois muitas vezes estou em um local público, mas não sou capaz. É mais forte do que eu. Sou penetrado por pensamentos sujos, desejos melados e, todo aquele manual de boas maneiras que normalmente fica colado em algum canto visível cérebro, é eclipsado pelo desejo de satisfazer minha carne, imediatamente. Logo me perco casino online em meio às minhas taras, geralmente desencadeadas por algum vestido curto, por alguma perna longa ou mesmo por uma respiração próxima ao ouvido. Logo percebo o quanto o desejo afasta de mim qualquer poder racional de decisão e me aproxima, quase que magneticamente, do prazer mais delicioso que eu conheço: o gozo incancelável, inadiável. Logo perco a noção da multidão e aceito mais um convite molhado pelo tesão. Tiro a roupa ali mesmo, onde quer que ali seja. Fico nu em praça pública e sem medo dos olhares curiosos, rasgo a saia dela, daquela que serve de gatilho para meu total descontrole. Sem vergonha, em meio aos carros, tiro a calcinha daquela que para mim, representa o mesmo que lua cheia representa para um lobisomem. Todos nos assistem, afinal, no asfalto, diante dos curiosos, chupo-a como se ela fosse meu primeiro chope de sexta. Obrigo-a, já fora da veste dilacerada, a sofrer as consequências de tudo que ela inflama em mim, por querer. Por prazer. Por gostar de me ver com os caninos expostos à luz do dia. Atrapalho o trânsito. Faço a cidade desviar do corpo dela estendido no asfalto quente.
Já dentro da pele do lobo, longe do falso corpo de cordeiro, consumido pelo desejo de comer aquela que transforma minha regra em bagunça, faço-a ecoar alto e com gemidos afoitos, abafar as buzinas e gritos da metrópole. Depois do gozo, liberto-me daquilo que sou de fato e, com pressa, retomo os pudores necessários para sobrevivência grupal. Visto minha fantasia social. Arrependo-me, movido pela minha esfera racional, de tê-la feito feliz graças ao sangue latejando dentro de mim. Arrependo-me por ter mostrado aos tantos transeuntes, o quanto estou longe de ser um bom rapaz, pois não passo de um bom bicho. Assim como você.