Sonhar é ter um amigo para a vida toda
Hoje, como de costume, fui caminhar. Não para fazer exercícios, coisa que evidentemente eu precisaria, mas para olhar nos olhos das pessoas que passavam pela rua. Parece um papo de aspirante a celibatário, eu sei, mas por mais louco que pareça a minha criatividade vem dos outros, não de mim. Dos sorrisos dos outros, dos olhares dos outros, das histórias dos outros e da vontade – ou falta dela – de viver dos outros.
Caminhar me desperta duas coisas: refletir e me apaixonar. Me apaixono ao ver mulheres caminhando com rabo de cavalo. Observo-as se movimentando daquele jeito valseado que alguns, por pouca visão lírica da mulher, chamam de caminhar e lembro como é possível ganhar inspirações em segundos. Confesso que fico hipnotizado ao admirar o movimento pendular do rabo – de cavalo – junto àquelas coxas que brincam de se alternarem e enrijecerem ao firmarem os pés na estrada. E, por outro lado, reflito ao olhar pessoas assentidas de sonhos e verdades caminhando rumo a seus afazeres, esperando mais da vida e suas fases inéditas.
E hoje eu queria ficar quietinho e refletir. Eu estava vazio. Não queria escrever, não queria comer, não queria dormir, não queria sair com os amigos… Eu não sabia o que eu queria. E com esse sentimento de mãos dadas comigo, percebi como o vazio da vida pesa. Ficar ali, sem saber o que sonhar, o que almejar, deixando só o tempo passar e não vendo muito sentido em nada a longa prazo. Então, entre uma refletida e outra, descobri que o segredo da vida não está somente em correr atrás dos sonhos, mas em saber quem e como eles são. Pois quando a gente sabe o que quer e injeta diariamente doses de ânimo em busca do que queremos, a vida fica gostosa. E com a vida gostosa a gente flui, a gente cria luz própria e emana vida por onde passa. E convenhamos, quem não quer ficar ao lado de alguém que brilha?
Percebi também que estou na melhor fase da minha vida. E não julgo por hoje ter isso ou aquilo, por estar solteiro ou namorando, por estar viajando mais do que imaginei ou lendo mais do que achei que conseguiria, mas sim por ter os meus sonhos todos cristalinos e estendidos na escrivaninha da minha consciência. Saber o que me faz alegre e ter certeza que estou beijando a boca certa – a boca do destino – é o melhor alvará que posso ter para buscar felicidade.
Saber sonhar é uma inteligência emocional. É driblar um cotidiano irretocável e colocar energia nos sorrisos que ainda estão por vir. É lutar junto de quem se ama, mas saber que, no fundo, estamos todos sozinhos em busca de alegrias e prazeres momentâneos.
Por esses motivos caminho, para lembrar como posso me apaixonar por momentos, mas principalmente para lembrar a mim que, sonho engarrafado não faz alegria.
Esse texto me marcou tanto, que cinco anos depois de ter lido senti a necessidade de ler outra vez. Driblar o cotidiano…. e colocar energia nos sorrisos que virão. Obrigada Fredinho, por suas palavras repletas de sentimentos que me fazem dar um sorriso ou dois, por compartilhar seu universo particular, e fico boba com seus textos, você sabe o que a gente sente, de forma que seus pensamentos expressos em palavras provocam arrepios de tão sinceros. Sinto liberdade, nas notas que você escreve e isso Fredinho, é característica de quem tem coragem de agir com o coração. Amo seu trabalho, sua forma de ver o mundo, a sensibilidade que flui em suas veias. Pude provar um pouquinho da tua energia no último domingo, no lançamento do seu livro em Recife. Você abraça com a alma, tão linda a forma como você se abre pra acolher o carinho das pessoas, passei a te admirar ainda mais, foi simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO te conhecer (já risquei esse sonho da minha lista de sonhos eheheh). Comecei a ler seu o livro novo, estou amando, me identificando, em alguns trechos meus olhos se encheram de lágrimas, por te ver ali, vulnerável compartilhando sua vida, seus medos. Que vontade de dar um abraço no Fredinho de 7 anos, e dizer pra ele que vai ficar tudo bem, que ele se tornará um homem incrível e um escritor muito amado. Um cheiro pra ti, com carinho, Silmara.