Sonhos às vezes não se realizam. Lide com isso!
Juliana sonhava em casar aos 22, ter filhos aos 25 e, com 30, se sentir a mais feliz das criaturas ao lado de uma família perfeita. Felipe sonhava ser case do Fantástico: um jovem que fazia músicas só pra ele mesmo, foi descoberto por uma gravadora e estourou em todas as paradas – sabia até como lidar com os malefícios da fama repentina, embora ensaiasse o seu melhor ângulo para fotos. Um multidão sonha todos os dias com o sucesso profissional, com o Arquivo Confidencial no Faustão, com filhos com a cara do pai que chegarão no momento certo. Uma multidão não realiza tudo isso todos os dias. E a vida continua.
Ao seu lado existem centenas de pessoas que queriam ser artistas e são advogados, que desejariam viajar o mundo e raramente saem do bairro, que já tem o vestido de noiva dos sonhos mas ainda não encontraram um alguém para dividir o altar e a vida. Você não é o único que se sente frustrado por não comandar o fluxo das coisas.
Estou longe de acreditar que você não deva tentar. Levante da cadeira, faça a sua parte, empurre o seu sonho para a realidade. Mas nunca, em momento algum, desconsidere ser feliz se algum dos seus desejos não se tornar real.
Às vezes sinto que somos crianças birrentas. Daquelas que querem uma boneca de cinco mil reais que os pais não têm a menor condição de comprar e mesmo assim choram desesperadoramente. E pior: não importa o amor dedicado na escolha de outro brinquedo, não há nada que faça a ideia fixa mudar.
Dá pra lutar pelo que a gente sonha, mas também dá pra ser feliz se tudo sair do planejado. E quase me arrisco a dizer que dá pra ser feliz quase de qualquer jeito quando a gente descobre que não temos a opção de realizar tudo o que queremos, mas podemos escolher o que fazer com essa realidade.
Somos apegados aos detalhes do que sonhamos e desapegados das oportunidades de sermos felizes que todos os dias desfilam na nossa frente. Somos teimosos com a nossa sorte e insistimos em estar descontentes com tudo que saia um pouco do planejado. Não queremos surpresas, não somos maleáveis, não sabemos lidar com a frustração – aquela que, vocês sabem, é filha da expectativa com o sonho.
Mudar isso pode não ser tarefa fácil, mas é o que temos pra hoje e pra todos os outros dias. Treinar o nosso olhar para valorizar tudo o que conquistamos (o calor de uma amizade, o sentimento de lar ao entrar na nossa casa, uma crise de riso no sofá) sem perder nunca a vontade de deixar a vida te surpreender é amadurecer.
Juliana está solteira aos 30, Felipe continua sendo programador. Mas ela dedica todo seu instinto maternal aos afilhados e descobriu que adora viajar sozinha. Ele usa toda a sua manha de rockstar em barzinhos na sua região e tem meia dúzia de fãs no Youtube. E os dois decidiram ser felizes com as opções que a vida deu. E realizaram o sonho de viver de verdade.
A vida é uma sucessão de decepções (mesmo quando conseguimos o que queríamos percebemos que as coisas “não eram bem como achávamos que seriam”). Para mim, o segredo da felicidade é não se importar tanto com a felicidade. Quando mais realistas formos menos sofreremos por uma realidade platônica que criamos.