Sou tua casa

Você me olha nos olhos e eu já não sei onde começo e termino. Sei apenas que é bonito te ver assim: me olhando, me querendo, me amando. Olho para os seus olhos e não consigo distinguir o quanto de lascívia e de ternura há neles. Tudo parece tão balanceado. É como se o tesão dançasse compassadamente com o amor. Teus dedos percorrem meu corpo e já não sei se dentro de mim bate um coração ou a bateria de uma escola de samba. Você desnuda não somente as minhas vestes, mas o meu interior. Lê facilmente as minhas entrelinhas, despe o meu corpo com a destreza de quem é acostumado a ler em braile. Sou tua.

O dia mal amanheceu lá fora e eu ainda posso ver constelações em teus olhos. Teus cílios bonitos parecem dançar ao olhar para mim. Me reconheço no teu olhar, sinto meu gosto no sabor dos teus lábios, me faço tua em teus caminhos e me perco mil vezes ao te encontrar. “Como uma onda irresoluta eu vou e venho entre os teus quadris”. Dançamos sem música. O nosso amor é ritmado. Somos ali, naquele quarto, amor, felicidade, gozo e mil outras sensações que ainda desconhecemos.

A manhã vai se despedindo de nós. E a luz do sol que entra timidamente pela fresta da janela revela o teu íntimo a mim. O teu peito é a minha cama e os teus braços se fazem cobertor para me aquecer. O mundo corre veloz lá fora, a vida não para porque estamos amando, o tique-taque do relógio tenta nos lembrar que a vida nos espera, que os compromissos nos aguardam. E, ainda assim, mesmo sabendo que devemos, não damos ouvidos. O amor é a nossa única urgência.

Tudo parece pequeno e até minha casa se torna estrangeira ao sentir que a minha morada é ali: dentro de você. Tuas mãos me descobrem. Os teus lábios me desvendam. A tua pele me encontra. E dali em diante, sôfregos e perdidos/achados, somos um. Sou teu esconderijo. Sou teu refúgio. Você adentra os meus cômodos e se instala conforme sua vontade. Já não tenho outra opção a não ser lhe entregar as chaves. A casa é toda sua. Sou a tua casa.

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