Te encontrei com semblante triste
Mas tudo bem, a afinidade aparece como borboletas intrusas e bem-vindas. Minhas besteiras. Tuas gargalhadas de canto de boca. Meus olhares românticos. Teus cabelos voando levemente. O som da Gadu. O cheiro de mirra. Confesso que acho engraçado e assustador, quando você fala de coisas pessoais e eu percebo que, no fundo, no fundo, você acaba falando de mim também em tuas frases.
Aí você diz que precisa ir embora. Algo entre o tô-com-medo-de-me-apaixonar e talvez-você-não-seja-quem-eu-preciso-agora. Abaixa a cabeça e deixa o cabelo cair sobre o rosto. Tenta se esconder atrás das mechas negras. Está com aquele receio de se entregar para alguém com sorriso torto, barba mal feita e tristes histórias sobre relacionamentos mal acabados.
Você pede mais um café, mais um trago, mais um cérebro e mais um coração. Diz algo entre estar cansada de depender dos outros e cansada de depender da pessoa errada. O café chega quente. Você assopra a caneca como uma criança experimentando mingau pelas bordas. Mas fuma como uma quarentona desesperada. E insiste em ter que ir embora.
Então, eu proponho um novo encontro. Um café. Um filme francês. Um chocolate quente. Uma volta no parque. Uma tarde inteira ouvindo reggae. Ou uma noite inteira ouvindo Blues. Qualquer coisa que me faça ver aqueles olhos castanhos novamente.
Te encontrei com semblante triste numa cafeteria do shopping. Te pedi o açúcar e você me olhou querendo um abraço. Somos dois estranhos falando de coisas em comum. Você acredita em destino? Pois é, eu também não. Você diz que vai ligar, mas nem tem meu número. Diz que está se sentindo sozinha. Mas, no fundo, me analisa como quem está traindo alguém por gostar da minha companhia. Você diz “tchau”. Eu digo: “tudo bem”. Dá dois passos, olha para trás e pergunta meu nome. Eu digo o meu telefone. Você anota e sorri.
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