Temos opções demais, tomamos decisões de menos
Percebo que estou sendo infantil ou dramática numa conversa, quando a minha mãe diz “imagine que quando eu tinha sua idade não tinha duas opções”. Amigos comprovam o que a ciência talvez nunca tenha estudado: a frustração da nossa geração é fruto da quantidade de opções de que temos para tudo.
Conheço gente para quem sair para jantar é um desafio. Tem três opções, escolhe uma. Se o atendimento demora um minuto a mais, a cerveja está numa temperatura levemente maior ou o petit gateu não está derretendo perfeitamente, começa uma verdadeira via sacra de lamentações. “O outro lugar deveria estar melhor, escolhemos errado, que droga”.
Iniciar uma leitura é quase um drama. Trocamos de banda no Spotify em um clique. É difícil escolher entre duas blogueiras com qual vamos aprender uma nova make. Temos acesso a bons livros, nunca esperamos ansiosamente por um disco, temos mais de uma referência para tudo.
Não existe saudosismo nisso. Existe apenas uma certeza de que temos tantas opções que não sabemos escolher. Diria uma música antiga do Charlie Brown Jr., “cada escolha uma renúncia”. Mas não queremos renunciar a nada. Somos ambiciosos com o mundo. Queremos estar em todos os lugares, conquistar todas as coisas, ser bons em tudo. E a expectativa é a mãe da frustração.
Toda vez que acontece um lamento doído e quase infantil de “e se eu tivesse escolhido outra coisa”, a felicidade vai um pouco embora. Porque ser feliz é estar onde você está, de verdade. Sem pesar que se você estivesse trabalhando talvez ganhasse um prêmio, ou se estivesse provando o novo restaurante da cidade se tornaria mais interesse, ou se tivesse começado primeiro a ler os clássicos teria mais bagagem.
Escolher de verdade não é esquecer que outras opções existem. Mas se entregar às suas escolhas sem sofrer pelo que passou. Porque o que aconteceu há um segundo não pode mais ser mudado. Mas o que acontece daqui a um segundo, sim.
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