Tinha um meteoro no meio do caminho
O Willian Bonner acaba de anunciar: “Um imenso meteoro está prestes a colidir com nosso azulado planeta.”. Que merda de notícia. Que bosta de ponto final precoce. Que surpresa injusta do caralho. E ele ainda teve a pachorra de terminar o jornal desferindo um sorridente “Boa-Noite”, acredita? Até profissionalismo tem limite.
Até ontem estava tudo tão bem e eu nem sabia, me achava um ser lotado de problemas, eternamente engarrafado no trânsito de cada dia e sempre fodido, graças às peripécias maquiavélicas desse tal de Murphy, mas hoje, vejo que meu único grande empecilho é essa rocha teleguiada vindo em minha direção e enxergo claramente que meu obstáculo verdadeiro é o pouco tempo que tenho para fazer tudo que ainda preciso.
Infelizmente, só percebi agora, a um dia de ser extinto por uma força inevitável da natureza, o quanto minha barriga sempre esteve cheia enquanto eu insistia em resmungar, como se meu estômago estivesse aos roncos e, dentro dele, ecoasse somente um insuportável e ignorante vazio. Lamentavelmente, eu não soube seguir o mais importante conselho dos sábios, não vivi cada dia como se fosse o último e, neste instante, finalmente sei bem que devia ter feito mais, dito mais, cantado mais, suado mais, arriscado mais ou, pelo menos, tentado muito mais, mas sei também que é tarde, até mesmo para continuar reclamando.
Droga de meteoro, filho da puta! Eu não posso parar tudo agora, nem vem que não tem! Acho melhor você desistir desta ideia ridícula de seguir em nossa direção. Eu prometi que levaria minha mãe para passear no shopping e não posso partir sem cumprir essa, sabe como mãe é importante, né?
Estou falando sério, sua maldita pedra voadora. Ainda preciso descobrir o nome daquela menina da academia, aquela que insiste sempre em deixar-me completamente gago e utiliza as mais hipnotizantes técnicas de rebolado profissional.
Caro Dr. Cometa, peço que tire já o pé do acelerador e gire o volante, pois tenho muita fé e ainda acredito que seja possível ensinar meu avô a mandar um e-mail, um SMS e até Tweetar, se assim ele quiser. Hei! Está me ouvindo daí de cima?
Falo sério. Recuso-me a partir sem aprender, de fato, a envelhecer diante do espelho ou a partir sem simplesmente saber aceitar o sumiço dos fios de cabelo que insistem em me deixar sem bilhete de adeus ou carta de despedida.
Eu não posso morrer tão já. O que farei com esse estoque inadiável de beijos estalados? Hein? Seria um enorme desperdício de abraços constritores e de amor, é claro.
Eu não posso morrer agora, pois me contaram que o Tarantino está filmando um novo filme, imperdível como todos os outros.
Desculpe-me a recorrência, mas eu não posso dizer tchau, nem sair daqui sem pedir desculpas ao meu pai, pela minha cabeça sempre mais cabeça dura do que deveria.
Eu não posso morrer agora, porque ainda não perdi o pavor de fazer feio na pista de dança.
Eu não posso morrer agora, não sem vestir a fantasia bronzeada de mais um verão no Brasil.
Eu não posso morrer agora, pois minha irmãzinha está louca para saber o segredo daquela mágica que a faz arregalar os olhos, como se eu fosse de outro planeta e possuísse poderes especiais.
Eu não posso morrer agora, pois o aniversário dela está próximo e sei o quanto ela pularia de alegria se eu lhe desse aquela sapatilha vermelha, que deixei nas mãos da vendedora frustrada.
É sério, Seu meteoro. Eu preciso que você mude os planos e vá pousar em outra terra, pois estou apaixonado, perdidamente apaixonado por esse troço lindo e louco, chamado vida.
Tenha calma, meu caro leitor. Respire fundo. Não seja precipitado, engula já as lágrimas, desista dos saques e dessa vontade estranha de sair por aí correndo pelado. Confesso que essa história mirabolante de meteoro é uma grande mentira, mas não se engane, amanhã infelizmente ainda pode ser seu último dia e eu realmente quero saber se vai continuar aí sentando, esperando a vida passar ou se, enfim, levantará e passará pela vida. Saia já dessa banheira de preguiça e Boa sorte. Carpe Diem e a noite também, porque não?
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