Todas as cartas de amor são ridículas
Todas as cartas de amor são ridículas. E é por isso que me deixo ser ridículo e me declaro sem pudor. Como quem se entrega ao machado que lhe corta o pescoço, te dou a minha carne como única materialidade do que carrego no peito. Sou cru, verá, tenso em certos momentos, mas na maciez dos braços prontos pra te receber e com a clara intenção de, um dia, ser chamado de lar.
Todas as cartas de amor são lindas. E é por isso que já nem sei quais próximas palavras que serão ditas, apenas sei que o corpo lançado no espaço do medo já trespassa a feiúra de me esconder por trás de qualquer amizade. Não saberia ser apenas. Não conseguiria manter-me quieto já que toda vez que te vejo os pêlos se ouriçam e o peito se inquieta como brasa jovem que desperta a fogueira.
Todas as cartas de amor são extensas. Mesmo que digam somente o básico, carregam consigo toda uma história pré-vivida que desabrocha num gesto, num ato, num beijo impensado ou num bilhete curto em papel barato, com aquelas três malditas palavras que pareciam engasgar na garganta e saem quase sem querer agora. E que repito: eu te amo.
Todas as cartas de amor são marginais. São entregues sem muita certeza, são dúbias. Chegam quase como um pedido de desculpas, mas depois de entregues tiram uma tonelada dos ombros do apaixonado. Agora mais leve, tenho plena convicção de que consigo te levar comigo, ainda que os joelhos estejam mais velhos e os músculos mais castigados, conseguirei te levar.
Todas as cartas de amor são simples. Existe ali um torpor pelo que se carrega há algum tempo que, por menor que pareça aos olhos dos mortais, já se traduz em milênios ao que o vê despertar. A complexidade do que se amontoa no âmago do ser apenas se traduz com os olhos atônitos ao bater-se com aquela figura que resume o Amor. Basicamente o que acontece quando eu te vejo.
Todas as cartas de amor parecem prolixas. Só que, na realidade, apenas o resquício do receio de dizer e ouvir o não, que agora parece tão bobo perto da coragem que teve de se ter para tanto. Aqui, então, diante de tudo que quero te dar, entendo que apenas desejo te ver feliz. Comigo ou “sem migo”, que seja. E por mais que toda carta de Amor pareça ter um quê de loucura, o mais sensato é apenas querer te ver feliz.
E se puder te fazer feliz, aí sim, será o Mundo. Nosso Mundo. Fruto da prolixidade extensa ridícula marginal e sincera desta linda e a cada palavra mais ridícula carta de Amor. Te amo.
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