Um amor para o fim do mundo. Ou quase
O mundo está acabando. Um asteroide de dois quilômetros de circunferência vai colidir com a Terra nas próximas 24 horas. Bombas e mísseis foram lançados e nada surtiu efeito. O mundo vai acabar. Thiago e Paula estavam passando um fim de semana em Iguaba. Eles são amigos e seus pais são, respectivamente, síndico e subsíndico do condomínio onde possuem suas casas de veraneio. Quando o jornal dá a notícia do iminente fim da humanidade na TV, Paula corre até a casa de Thiago.
– Thi, o cometa vai bater mesmo na Terra, viu!?
– Não, onde que passou? Eu tava jogando videogame.
– No jornal, acabou de passar! Os mísseis não adiantaram, o cometa vai bater na Terra em até 24 horas, eu acho. E já que o mundo vai acabar, eu pensei na gente… você sabe. Você sempre quis ficar comigo, eu nunca quis. Aí agora que o mundo vai acabar por causa do cometa, eu pensei “mas por que eu nunca quis ficar com o Thiago? Ele é legal e tal, a gente podia ficar”. E eu não consegui lembrar por que eu nunca quis ficar com você. Que que você acha??
– Eu acho que deve ser um asteroide. Cometas são compostos só de gelo, poeira, e umas pedrinhas pequenas. Se fosse um cometa não ia ter muito problema.
– Lembrei porque eu nunca quis ficar com você… Bom, mas o mundo vai acabar e a gente tá em Iguaba, no inverno e não tem ninguém na cidade. Então a gente podia…
– Podia! Vamos! Onde? Como?
– Na minha casa!
– E o seu pai?
– Quando ele soube que o mundo ia acabar ele foi correndo procurar alguém que tivesse a figurinha do Rivelino no time do Fluminense no álbum do Campeonato Brasileiro de 76. Ele disse que não morre sem completar esse álbum.
– Ah, tá! Vamos então! Mas vamos alugar um filme? Comprar um vinho, uns lanches?
– Thiago, o mundo vai acabar em menos de um dia, eu bato na sua porta querendo fazer sexo com você, e você quer ALUGAR FILME E COMPRAR VINHO?
– É pra criar um clima, Paulinha.
– Clima? Clima é só tirar a roupa e pronto, tá lá o clima! Você quer me comer há dez anos, e agora a gente vai ficar sozinho a noite toda, sem mais ninguém em casa, eu querendo te dar e você quer ver filme a noite toda!?
– Tá, tá, eu sei que você tem medo, a gente aluga um romance em vez de filme de terror.
– Esquece, Thiago. Melhor eu comprar um vibrador e aproveitar essas 24 horas sozinha.
– Não, não, pera. Vamos. Só espera eu tomar um banho e trocar de roupa.
– Pra quê?
– Pô, eu não tô arrumado, acordei ainda agora e tava jogando videogame. Eu quero estar arrumado pra gente sair.
– Thiago, deixa eu desenhar pra você: a gente não vai “sair”. Não vai ser um encontro, um “date”, nada. A gente só vai transar até o mundo acabar.
– Porra, mas é muito tempo!
– Eram vinte e quatro horas de manhã. Até a gente chegar lá em casa, vai faltar só umas dezoito horas…
– Então! Muito tempo, meu Deus! Se fosse umas duas horas eu já ia precisar de um descanso no meio.
– Ai, Thi, para de reclamar e anda logo!
– Tá, só vou trocar de roupa então. Pelo menos a cueca, tô com a minha cueca de ficar em casa.
Sem paciência, Paulinha faz um gesto de “tá bom, tá bom” com as mãos, seja lá como for esse gesto. Ele entra e volta, penteado, de calça jeans, camisa social e sapatos. Paulinha o olha de cima a baixo.
– A gente vai a algum casamento antes de transarmos e você esqueceu de me avisar?
– Para, pô. É a nossa primeira vez, eu queria estar arrumado.
– Ah, que fofo, Thi! Nossas fotos vão ficar lindas quando a gente postar no Facebook amanhã. Ah, não, droga. Amanhã o mundo vai ter acabado!!
– Calma, Paulinha, eu já tô pronto, vamos!
– Anda logo antes que eu desista.
– Só vamos passar na farmácia pra comprar camisinha.
Paulinha não acredita no que acabou de ouvir. Ela tenta falar com paciência, se controlando para não bater com a cabeça de Thiago na parede.
– Para. Que. Camisinha?
– Como assim pra que? E se você engravida? E se a gente passa alguma coisa um pro outro?
– Realmente, isso seria um problemão pra gente resolver quando estivermos no inferno amanhã!
– Putz, é mesmo!
– Thiago, entra no carro e não abre a boca até a gente chegar em casa, porque eu já tô quase desistindo!
E Thiago, que é meio bobo mas não é maluco, ficou quieto. Chegando lá, Paulinha avançou nele, que ficou um pouco reticente quando Paulinha tentou lhe tirar as calças.
– Peraí, peraí, Paulinha. Assim?
– Assim como? Você não é virgem, né? É assim que acontece!
– Não, pô, digo, assim, do nada e tal? A gente mal se beijou, sei lá.
– Você agora quer que eu te peça em casamento pra gente poder transar?
– Não, é que, sei lá. Eu queria tirar a sua roupa, devagar e tal, criar um clima, sei lá. Assim é estranho.
– Tá bom, Thiago, tira, pode tirar, me seduz, me conquista, mas pelo amor de Deus, me come logo!
Thiago avançou em Paulinha. Devagar, respeitando. Primeiro mão na bunda, depois nos peitos – por cima da blusa, claro. Depois do lado do peito, coxa, dentro da calça, na bunda, tirou a blusa e empacou no sutiã. Não conseguia tirá-lo. Sem paciência, Paulinha tirou o próprio sutiã diante de um pasmo Thiago.
– A gente tem menos que dezoito horas, eu não queria perder dez horas pra você tentar tirar meu sutiã!
Thiago se resignou e continuaram. Tirou o sutiã. E ali, com aqueles peitos lindos e empinados na sua frente, Thiago os apalpou. Primeiro devagar, depois mais forte e, quando, por fim, abriu a boca para a derradeira conjunção entre a sua língua e o mamilo intumescido de Paulinha, ouviram um grito da rua. Algo como “não vai acabar!”. Paulinha correu e ligou a TV, ainda em tempo de ouvir o William Bonner noticiando que um míssil russo conseguira destruir o asteroide, e que somente pedacinhos iam cair sobre a Terra, mas nada muito perigoso, e que iam cair em Brasília, em um sábado, ou seja, com risco quase zero de vítimas humanas.
Ao ouvir aquilo, Paulinha pulou de alegria! Se abraçaram, se beijaram, felizes! E quando, num rompante de luxúria, Thiago colocou novamente sua língua em rota de colisão com o mamilo de Paulinha, foi afastado rudemente, enquanto ela colocava a blusa.
– Agora o mundo não vai acabar mais, nada disso.
– Mas…
– Mas nada, se você não tivesse enrolado tanto, a gente já podia ter tido dois filhos.
Thiago não tinha nem forças para argumentar. Se vestiu e se dirigiu à porta da rua.
– Desculpa, Thi, mas esse cometa era a sua chance. Não fica bravo, eu queria, mas agora não tem mais muito sentido. Tá?
Thiago fez que sim com a cabeça e andou até o portão. Lá chegando, parou, meio triste.
– Paulinha…
– Fala, Thi…
– Não era um cometa, era um Asteróide.
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