Um amor que eu não conhecia

Em 2013, minha namorada terminou comigo. Eu me senti um lixo. Passei vários dias acreditando que o amor era uma grande porcaria. Conversava com meu pai e ele ficava me dizendo que o amor era a coisa mais bonita.

Eu olhava pra ele e dizia:

“Ah! você diz isso porque nunca terminou com alguém que amou um dia. Você se casou com a mulher que queria e está com ela há quarenta e seis anos. Se a vida lhe tirasse isso, tenho certeza que você também se sentiria um lixo.”

Algumas semanas depois, numa terça-feira, meu pai entrou no meu quarto e sentou ao meu lado.

Ele disse: “Meu filho, estou doente.”

Eu perguntei: “O que você tem?”

Ele falou: “Tenho uma doença rara e degenerativa.”

Eu insisti: “O que isso significa?”

Ele esclareceu: “Que tenho poucos dias de vida.”

Eu comecei a chorar.

Não parei de chorar nem por um minuto. Comecei a gritar e xingar ele e o mundo:

“Que Deus é esse em que você tanto acredita? Que amor é esse que você diz que é tão bonito mas que vai tirar sua vida?”

Meu pai tentou me acalmar, segurou minha mão e me contou uma história que eu não sabia.

Ele disse: “Meu filho, antes da sua mãe, eu fui apaixonado por outra mulher. Um dia, ela me disse que estava grávida de uma menina. Foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Nove meses depois a bolsa estourou. Eu estava na maternidade, com um anel de noivado no bolso. Seis horas mais tarde, o médico apareceu dizendo que minha namorada estava tendo uma hemorragia. Doei sangue três vezes, mas não adiantou. Nem ela nem a nossa filha sobreviveram.

Foi o dia mais triste da minha vida.

Eu olhava para dentro de mim e só sentia dor. Eu caminhava pela rua e só enxergava chuva. Mas, antes de eu me perder, o amor começou a me reerguer.

Comecei a olhar para o céu e perceber que até as nuvens mais escuras tinham uma margem clara. Levou um tempo mas eu encontrei a paz. E, quando isso aconteceu, sua mãe apareceu. Nós nos apaixonamos e casamos. E, nesses quarenta e seis anos casados, sua mãe me ensinou o seguinte: que tem gente que se vira e vai embora e tem gente que fica e faz o melhor que pode.

Mas, respondendo a algumas de suas perguntas, meu filho. Eu não briguei com Deus. Não xinguei o mundo nem ninguém.

É difícil acreditar no que eu vou dizer, mas um dia a dor que existe dentro de você vai desaparecer. Eu sei que agora não é o que você sente, mas um dia você descobrirá que, quando você usa o amor para o bem tudo à sua volta se torna melhor também.”

Meu pai enxugou as lágrimas e terminou a conversa dizendo: “Então, meu filho, eu te amo. Não se esqueça disso nem de mostrar amor nos tempos mais difíceis.”

Eu o abracei forte e chorei ainda mais. Não levou muito tempo e eu fiquei em paz. Outra pessoa apareceu na minha vida e meu pai viveu ainda por muitos dias. E se você, aí do outro lado, estiver passando por um momento difícil, não levará muito tempo para descobrir: o amor pode fazer coisas que você nunca sonhou ser possível.

Comentar sobre Um amor que eu não conhecia