“Um dia” é tanta coisa: um filme, um amor, uma despedida…

Vinte anos, duas pessoas, uma mesma data. Esse é o mote do filme “Um dia”. Em um dia tanta coisa acontece e nem nos damos conta dessa dimensão. Essa unidade temporal quando lembrada anos depois, talvez ganhe um significado menos banal. A gente vai entendendo quais dos nossos sonhos eram vento e quais eram cimento. Tudo agora parece depressa, com a facilidade tecnológica, as decisões parecem invadidas pela grama do vizinho. A felicidade é cada vez mais comparativa – baseada nos sorrisos alheios que copiam o do próximo e assim por diante.

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No Facebook , por exemplo, temos sido notificados sobre como era a nossa a vida há exatamente um ano atrás. Particularmente, essa sensação de resgate às vezes me deixa um pouco aflito. Traz a tona tudo o que continua na inércia e também me faz achar que eu deveria ter feito algo diferente, me parece uma fatura do arrependimento e não uma inocente recordação. É como um alarme póstumo desobediente, aquele que tinha valor real no dia do compromisso, mas hoje está tocando porque você não o desativou. A lembrança que vem não é a escolhida por nós e sim por um critério de calendário do sistema. Esse recurso na vida real talvez seja algo incomodo, mas usá-lo como elemento estrutural em um livro ou filme traz um caldo potencialmente bom.

Na história de David Nicholls, tudo começa em 15 de Julho de 1988, num after empolgado pós-baile de formatura, Dexter (Jim Sturgess) e Emma (Anne Hathaway), até então pseudoconhecidos, acabam passando a noite juntos. Esse pequeno fato, inicialmente acidental, acaba sacramentando uma amizade entre os dois. Cada um então segue o seu caminho, mas nessa passagem de tempo, vamos observando que nenhum deles encontra exatamente a vida que sonhava. Nessa trajetória irregular das expectativas, os dois continuam ligados inclusive por suas insatisfações e o imã do sentimento vai tratando de juntá-los em diversas oportunidades.

Assista o trailer:

“Acho que você tem medo de ser feliz Emma. Parece que pensa que o caminho natural das coisas na sua vida é ser triste, sombria e macambúzia, e odiar seu emprego, odiar o lugar onde mora e não ter sucesso nem dinheiro, e Deus a livre de um namorado. Na verdade, vou mais longe: acho que você gosta de se sentir frustrada e ter menos do que queria ter, porque isso é mais fácil, não é? O fracasso e a infelicidade são mais fáceis, porque você pode fazer piada com isso. Você é linda, sua velha rabugenta, e se eu pudesse te dar um só presente para o resto da sua vida seria este. Confiança.”

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One Day

Ao mostrar o contexto dos personagens anualmente, exatamente no dia 15 de Julho de cada ano, o recurso promove um “desarranjo” narrativo interessante, já que a abordagem datada, supostamente não pode forjar um espaço/tempo bem resolvido. Apesar de o mote principal ser uma história de amor, a passagem temporal e os acontecimentos que correm nesse durante, trafegam por diversas questões da vida como um todo. Qual o sentido do nosso diploma? Ser feliz no trabalho ou trabalhar pra ser feliz? Ter ou não filhos? Construir uma família ou abraçar um caminho individual? Passando por todas essas questões, um medo das coisas não darem certo, e uma saudável renegociação. Em algum momento da vida, ou você entende que não tem obrigação muito menos contrato com os seus anseios, aceita que a constante da existência é achar contentamento na incompletude, ou você acaba aos poucos tomado por um sentimento movediço de amargura.

A cada corte de cabelo, ou fio branco, o tempo é o cenário de decisões e reencontros. Eles sempre estarão juntos, inevitavelmente, em cada descaminho, até o dia em que alguém não chegará ao encontro no café. É que o amor sempre será impontual, geralmente não avisa que está chegando, muito menos ousa virar as costas por último. Ele apenas se cala, em algum imprevisto de uma tarde nublada. E tudo o que podemos fazer é culpar a tal tarde. Tarde de lágrimas. Tarde demais. As mãos um se dia soltam, não tem como fugir.

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