Uma declaração pé no chão

Eu sei que você é um cara meio desconfiado. Meio cético. Meio calejado. Sei que você me olha de rabo de olho. É precavido. Ressabiado. Sei que você faz pouco caso do meu jeito sonhador e dos elogios que eu lhe rasgo entre um ou outro gin. Sei que você acredita em pouca coisa do que eu digo e coloca muito pouca fé em mim.

Sei que você tem suas regras. Sei que você quer ir com calma e gosta das coisas do seu jeito. Sei que você faz vista grossa para o meu carinho exagerado e desvia a atenção quando eu ensaio aquele olhar piegas de filme apaixonado. Sei que você se faz de superior e finge que não lê os meus textos clichê. Tudo bem. Está bom assim. Eu também finjo que eles não são para você.

Se quer saber, acho até que você está certo. Talvez eu goste de você por ser justamente a porção de bom senso que falta em mim. Talvez eu goste de você pela parcimônia e pelo pé no chão. Talvez eu goste de você pelo falar quase sensato. Pelos freios e pela certeza. Talvez eu seja meio interesseira e goste de você por ser rico da razão que não existe aqui em mim.

Talvez você não seja mesmo o homem mais lindo do mundo. Talvez o Adam Levine ganhe de você. Sejamos realistas, não é mesmo? Talvez ele tenha uma barba menos falhada e as unhas menos roídas. Talvez ele não tenha tanta cicatriz de peraltice nas canelas. Talvez ele tenha as mãos mais macias, os dentes mais alinhados e uma cabeça mais proporcional ao resto do corpo. Você é meio cabeçudo. Nunca falaram isso para você?

Mas sabe, duvido de algumas coisas. Duvido que ele tanta história de infância para contar. Duvido que ele já tenha se quebrado de patins ou skate. Duvido que ele tenha um abraço tão quente e que naquela cabeça proporcional caiba tanta piada boba entre um ou outro insight genial.

Duvido que aquelas mãos macias façam um carinho melhor que o seu. Duvido que os olhos dele sejam castanhos, mas tenham o fundo da cor da garrafa de vidro do Guaraná Antarctica. Você nunca reparou? Reparei esses dias. O fundo do seu olho às vezes fica verde-garrafa. Pelo menos é assim quando eu olho para você.

Se você quer que eu seja realista, juro que vou tentar ser: eu não preciso de você e nem vou morrer se você me largar. Tudo isso é lero-lero. Lengalenga. O que eu tenho a dizer é que eu gosto tanto de você que quero lhe dedicar o melhor de mim mesmo sem nem de longe precisar. 

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