Uma lingerie nova não basta
Sexo cotidiano pode, sim, ser uma delícia. O sexo que você faz a cinco ou dez anos com a mesma pessoa não precisa – e nem deve – ser monótono e previsível.
Num mundo de sexo fácil e putaria em um click, é compreensível que as pessoas sejam cada vez mais exigentes, inclusive com seus parceiros de longa data. O sexo mais do mesmo não agrada. Enquanto você faz aquele papai-e-mamãe sem graça, só consegue pensar que tem trabalhos pendentes ou que precisa ir à manicure, e, obviamente, não sente prazer.
Em meio à monotonia do sexo cotidiano mal cultivado, muitas mulheres buscam incrementá-lo para satisfazer os seus parceiros. Não adianta negar: é esse o objetivo. Muitas delas querem – tão somente – sentir-se confortáveis ao protagonizar uma relação tesônica, em que o homem esteja satisfeito para que não queira traí-la ou deixá-la. E, mais uma vez, ela não goza. Fruto desse desejo de satisfazer o parceiro sexual a qualquer custo, muitas mulheres correm desesperadamente em busca de lingeries , fantasias, brinquedinhos e todo o arsenal de apetrechos oferecidos nos sexy shops. Elas chegam felizes em suas cintas liga vermelhas, com seus óleos aromáticos e algemas nas mãos, e o cara come, goza e dorme. Nada de surpreendente e especial que faça jus àquela bela lingerie caríssima. E ela, mais uma vez, acaba com uma brochada histórica de decepção. Começam as encanações: Eu não sou gostosa o suficiente, ele está me traindo, ele não me quer mais. Nosso sexo é uma merda. E, se é assim, é uma merda, mesmo, mas não precisa se desesperar.
Uma bela cinta liga vermelha faz, sim, um pau ficar deliciosamente duro em segundos, mas não faz milagres. Uma vida sexual tesônica depende muito mais de como você se sente do que de como você se veste. Ao seu parceiro importa muito mais saber que você gozou do que te ver, toda gostosa, em uma fantasia de colegial.
A verdade é que a maioria das mulheres precisa aprender a gozar. E não adianta jogar toda a responsabilidade nos ombros do moço. O orgasmo tem um aspecto psicológico que depende exclusivamente de você, e você precisa lidar com ele.
Essa falta de entrega da mulher em relação ao sexo – especialmente ao sexo cotidiano – é fruto de uma lamentável hipocrisia que nos rouba a melhor parte do prazer. Muitas mulheres negam-se à liberdade sexual. Reprimem seus desejos. No fundo, não conseguem sequer admitir que a mulher pode, sim, ser safada. Não conseguem dizer em alto e bom som que gostam de um belo pau.
Nossa cultura pouco evoluída sexualmente nos torna escravos da monotonia e da mesmice. Preferimos levar uma vida de privações a admitir que queremos gozar. Escondemo-nos atrás de uma lingerie vermelha e nos isentamos e revelar – e realizar – nossas verdadeiras fantasias, por considerá-las podres demais.
Com sua licença para ser polêmica – o sexo é podre mesmo. Sexo limpinho nunca despertou nossos instintos. Sexo papai-e-mamãe, puritano e casto, não satisfaz o prazer de animais instintivos como nós . Satisfaz, tão somente, as exigências – essas sim, podres – da nossa sociedade hipócrita.
Eu acredito em um mundo em que as pessoas – especialmente as mulheres – estejam dispostas a atear fogo em suas máscaras de pudor e confessar suas fantasias mais absurdas. Que parem de querer um sexo bom apenas para poderem dizer que têm um sexo bom. Que elas queiram – e admitam querer – apenas sentir prazer. Que não se envergonhem de ver pornô ou de sentir desejo pelo chefe, pelo vizinho, pelo colega – assim como seus parceiros sentem até pela prima gostosa. Eu acredito em um mundo em que os tabus sejam quebrados e as pessoas, sem hipocrisia ou puritanismo, queiram, tão somente, relaxar e gozar.
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