Vem se surpreender com As Bahias e a Cozinha Mineira
Anos 1970, Gal Costa subia ao palco sozinha, com pouca roupa, flores e muita ousadia, quebrando tabus e paradigmas sobre a sexualização da mulher. A cena que Gal deu início, foi perpetuada por As Bahias e a Cozinha Mineira, banda formada por Assucena Assucena, Rafael Acerbi e Raquel Virgínia – que lançou um dos discos mais surpreendentes da música brasileira em 2015, intitulado Mulher.
Ah se, ah se você pudesse entender
Oh baby! Baby eu vou cantar
Uma canção
Uma canção pra você
O nome do disco foi surgindo enquanto Assucena e Raquel descobriam sua própria identidade, mulheres transexuais. A capa do disco, outra loucura para os conservadores, evoca um púbis aparentemente descolado da ideia de depilação e rodeado da menstruação nossa de cada mês.
E as músicas, então? Um tratado de história sobre as mulheres na sociedade e a opressão masculina. Além de, claro, uma composição harmônica bem brasileira que passeia pelo samba e funk brasileiros, o axé, o soul e o rock.
Já choraram teu choro, prantos correm na história
Feito rio que erode do espaço às margens: Trajetória
E dum traje contido, de branco e grinalda na média
Abusaram o desejo do corpo e teu sonho trajou de tragédia
Menina de saia de gozo pré-extinto
Quantos tempos bordaram o calado bordel de teu instinto?
A poética do disco dialoga com o clássico e a modernidade da música brasileira, colocando também a sociedade brasileira em traços claros, fazendo uma conversa franca do que é ser mulheres, no plural, hoje.
Eu não sei vocês, mas eu me surpreendi quando conheci a banda, ainda mais pela visibilidade de mulheres trans em um contexto que marginaliza 90% dessas pessoas. Eu não queria, mas me surpreendi. O bom é saber que glitter, flores e luta não vai faltar nessa banda aí.
No colo da saudade, eu
Conduzi o braço do teu rio
As selar-me na boca o traço do vazio
O disco completo está no Youtube e na página do Facebook você pode acompanhar a banda.
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