Viver como nunca mais

Eu sou aquele cara que vai te beliscar durante o futebol de domingo e vai te fazer atentar pro fato de que ela está em casa, puta e morrendo de vontade de fazer alguma coisa contigo. Sou aquele que vai te fazer perguntar “você tá chateada, amor?” já sabendo a resposta e sem vontade nenhuma de ouvi-la. Alguns dias, eu espero, te farei vestir a primeira roupa e bater no portão dela com a cara mais lavada dizendo “eu demorei, eu sei”.

Todos os envolvidos sabem.

Sabe aquela voz que te chegará no pé do ouvido e dirá “sabe há quanto tempo você não dá uma flor pra uma namorada sua?” Então, serei eu de novo. Com esse instrumento idiota no teu pulso, as folhas monótonas na geladeira e um celular de última geração que só serve mesmo pra postar foto, mas que não te ajuda a me enxergar. “Enxergar”, coloquemos assim pra ficar mais óbvia a resposta.

Na fila do banco, eu sou o bem mais precioso que os caixas te tiram. Talvez seja por isso que tanta coisa seja resolvida pela internet. Talvez seja por isso que inventamos tantos atalhos, preferimos caminhos mais curtos e corremos alguns riscos desnecessários só para chegarmos mais cedo. Há quem diga que cinco minutos não fazem diferença. Tudo bem, dependendo do contexto. Noutros, esse tempo é uma vida.

Literalmente.

E voltando à vaca-fria (como diriam os antigos) da pontada na tua consciência (não, eu não sou a tua consciência), vou te fazer atinar que cada momento é único. Cada ser humano tem o direito de viver seus instantes de forma singular e isso o prende às consequências de suas escolhas. Vou te provocar e dizer “não responde essa mensagem dela agora não”, mas posso te fazer se arrepender depois. Desculpa a minha contradição, mas a única coisa que faço questão de dizer é que você é livre pra me usar como quiser.

Quem sou eu? Você sabe, oras. Conta cada segundo, minuto, dia. Conta com essas frações que os homens inventaram só pra conseguirem entender quando vem o Sol e quando vem a Lua, sem compreenderem que o que importa é viver cada instante como nunca mais. Amanhã é um outro dia? Sim! Mas a felicidade não se repetirá igual, nem a tristeza também.

Amém, né?

Eu sou o tempo. E vou te dar a chance de fazer o que bem entender comigo. Usá-lo como e com quem quiser. Vou atiçar sua consciência e vou apressar os relógios da tua casa nos momentos mais impróprios, mas vou tentar ir devagar
quando estiver nos braços dela, ok? Eu sou aquilo que você tem mais rico. E sou o que pobres coitados reclamam de ter acabado quando dão de cara com a prateleira da vida e se dão conta.

“Queria ter mais Tempo”, é o que mais ouço na hora do fim.

Agora pula do sofá e vai encontrar quem te ama.

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