Você acha que sinto falta dos teus olhos castanhos redondos?
Mais um café. Eu parei de fumar em janeiro. Mas voltei hoje. Eu parei de chorar em dezembro, quando meu cachorro morreu. Mas voltei hoje. Peguei aqueles meus CDs velhos de músicas melosas. Eu parei de ouvir Radiohead em março. “Fake Plastic Trees” me faz chorar com uma menininha que perdeu seu urso de pelúcia. Mas voltei hoje. Até meus vícios que me deixam tristes ou drogados voltaram, e nada da tua cara rosada e de teus dentes tortos.
Você acha que sinto falta dos teus olhos castanhos redondos? Lógico que não. Você pensa que eu sinto saudades dos teus peitos grandes que mal cabiam em minha mão? Não. Você nem imagina, mas eu não sinto nenhuma falta da tua gargalhada e dos teus espirros matinais. Muito menos dos teus beijos que invadiam até o âmago da minha alma. Eu não sinto tua falta. Não. Óbvio que não. Mil vezes não. Jurei a mim mesmo não sentir mais falta de ninguém além de mim. E continuo com esta promessa de pé.
Eu sinto falta é de mim quando eu estava com você. Eu sinto falta da minha cara de bobo quando eu te via concentrada lendo Jung ou Reich. Eu sinto falta dos meu sorriso dormentes após uma transa maravilhosa. Eu sinto falta das borboletas, águias e até dinossauros no meu estômago quando você dizia me amar para vida inteira. Eu sinto falta do brilho dos meus olhos ao entrelaçar meus dedos aos teus e caminhar pela noite.
Eu parei de ler Gabito Nunes em setembro. Aquele maldito porto-alegrense, que ao invés de se encher de chimarrão e de meninas loiras bonitas, insiste em escrever as nossas histórias e confusões em teus contos. Mas voltei a ler hoje. Até o bat-bag voltou, me irritando com teu barulho ensurdecedor pelas ruas da cidade. Mas nada do teu cabelo dourado de sol e de teus pés 35. Eu parei de viver em abril.
Estamos em julho e, assim como você, ainda não voltei também
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