2016, eu já mudei os pedidos

Querido 2016,

Já se passaram quatro dias desde o Réveillon e eu ainda sinto os vestígios de ressaca. Meu estômago continua sensível e ora ou outra minha cabeça dói como se ao invés de beber champanhe eu tivesse tomado porrada. Olha que eu fiz tudo certo: vesti branco, pulei sete ondas, comi uva, lentilha, romã e usei uma calcinha nova na noite da virada. Cumpri o ritual conforme o combinado, e hoje, ressentindo a bebedeira de três noites passadas, eu descobri que vocês anos não perdoam nem com mandinga: se a gente erra ou exagera, inevitavelmente experimenta as dores da ressaca.

Descobri que pedir saúde é importante, mas que eu ajudo muito se começar a comer menos fast food e não me embriagar como se todo fim de semana fosse uma noite da virada.

Descobri que vestir branco dá graça e esperança à noite de ano novo, mas que pouco adianta desejar a paz se eu arrumar encrenca com quem vota diferente de mim ou sem querer me fecha no trânsito da marginal parada.

Descobri que comer lentilha é gostoso, mas que mais importante do que pedir dinheiro é pedir sabedoria para não enxergar a felicidade apenas naquilo que se passa no débito, crédito ou em suaves prestações no boleto bancário.

Descobri que a calcinha cor-de-rosa é realmente uma graça, mas o que mais atrai amor é praticá-lo todos os dias. Sobretudo o amor próprio. Aquele do qual às vezes a gente se esquece por uns ou outros desamores equivocados.

Descobri, 2016, que vocês anos não têm culpa dos nossos erros e de vez em quando são um pouco injustiçados. Por isso, me comprometo a passar por você sem culpar o tempo pelos meus próprios vacilos e burradas. Me comprometo a não me comprometer com coisas que não consigo cumprir e peço licença para mudar os pedidos que eu, tão volúvel, fiz nas noites passadas.

Peço, 2016, que você me dê sabedoria para ser mais tolerante e assim construir minha própria paz. Peço que nos momentos de descontrole eu não perturbe aqueles que me cercam com grosserias desnecessárias. Peço coragem para me afastar das pessoas me fazem mal e abalam minha crença no poder da bondade. Peço que as pessoas boas não passem despercebidas pela minha miopia para que eu possa reconhecê-las e valorizá-las. Peço que me lembre de valorizar todos os momentos em família para que eu aprenda a priorizá-los. Peço que minha fé não se abale e que caso eu erre, você continue abrindo meus olhos para as lições ensinadas pela ressaca. Peço para trocar qualquer desejo que pareça bobagem por amor, perseverança, tolerância e serenidade.

Desde já, obrigada.

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