4 filmes de terror para se esconder debaixo do cobertor
Temos motivos para comemorar: os bons filmes de terror retornaram com tudo. Nos anos 10 o gênero parece voltar a investir na sugestão, na atmosfera de dúvida manipulada, em entidades sem representação caricata. O núcleo diabólico parece um hospede infiltrado e não um estranho que bate a porta. O mal não está mais escondido no armário, ele circula por todos nós, ele parece um vírus que se instala e se espalha num caminho sem volta. Os heróis não são mais tão virtuosos, isso quando eles existem.
– Nossa, mas num tem susto, eu nem fiquei com medo.
O terror dos anos 10 vem de dentro pra fora e investe mais na estética do que na lógica, mais na tensão do que no susto. Sinta a angustia continua, contemple ao invés de entender. O terror de agora não é mais bonzinho com o espectador, ele termina com perguntas e não com petiscos de compreensão. Então, agora sim, prepare as unhas, o cobertor e se possível tenha bons sonhos.
1 – A visita
Um casal de irmãos vai passar férias com os seus avós em uma fazenda no meio do nada. Em pouco tempo de convivência, começam a perceber comportamentos estranhos vindos do casal de idosos.
Por que assistir?
Apesar de o terror documental ser um gênero saturado por conta de obras questionáveis, nesse caso a câmera exerce um efeito de humor bastante interessante quando misturado à tensão dos acontecimentos. Esse efeito não traz um tom de deboche para a história, ele reafirma um estado de presença da câmera, justificando a metalinguagem, um recurso nada novo, mas bastante pungente dentro da proposta do filme. Outro fator relevante é a avó, que parece encarnar em uma mesma personagem os traços mais sinistros das autênticas “velhas corocas”.
2 – Corrente do Mal
Uma jovem leva um estilo de vida trivial: escola, rolês e paqueras.Depois de transar com um garoto, ela passa a ser perseguida por uma força maligna sexualmente transmissível. Ela começa então a viver o dilema moral entre se livrar do contágio ou aderir à corrente. Enquanto isso é perseguida por seres estranhos e invisíveis para as outras pessoas.
Por que assistir?
“It follows” arrebatou a crítica por ter uma estética indie nostálgica e ao mesmo tempo pessimista, um som bastante perturbador e por desviar rigorosamente da obviedade dos filmes em que a sensualidade das vítimas se sobrepõe ao intuito da tensão. A narrativa opera discretamente por conflitos geracionais, como o fim da inocência, ou a falta de perspectiva dos jovens, como se a vida pudesse terminar num pacato fim de tarde. O american way parece ofuscado pelas falsas promessas da paisagem que se despede.
3 – Boa noite, mamãe!
Uma mãe e seus filhos gêmeos moram em uma casa grande, afastada da cidade. Após voltar ao lar depois de ficar um tempo longe por conta de cirurgias plásticas no rosto, a mãe começa a despertar a desconfiança das crianças que começam a tratá-la como uma impostora. A partir daí, nada será como antes.
Por que assistir?
Mais uma tragédia familiar, mais um conjunto de ações suspeitas que nos confundem. A maldade adirecional é a tônica do filme, já que os personagens falam pouco e essa blindagem de intenções desqualifica a conclusão do espectador. Outro fator interessante é um recurso de entendimento que aparentemente está estampado na nossa cara o filme todo mas que justamente nos distrai pela tal obviedade, e por fim nos surpreende no ato final.
4 – A Bruxa
Em um condado rural da Inglaterra, um casal cristão é expulso pela comunidade religiosa da região por conta de questionamentos bíblicos. Mudam-se com os filhos para uma casa rústica e isolada próxima de uma floresta com algumas plantações de milho. Um dia, o bebê recém-nascido desaparece por conta de um descuido da filha mais velha. A partir daí, um processo de degradação começa a assombrar o cotidiano familiar e a atmosfera de dúvida passa a alimentar uma série de conflitos que culminam numa grande tragédia.
Por que assistir?
Um terror de época, com pouquíssimos personagens, em que as vítimas não estão alocadas em um elenco de apoio que só serve para morrer e mais nada. Repare também na sinistra relação entre os gêmeos e o bode maligno, deixam no chinelo qualquer criança de Tim Burton. E o ponto mais chocante: a ideia de família pulverizada por uma força maior, uma força que destrói aos poucos os traços de fraternidade, ninguém está a salvo, e o mal generalizado se instala sem que saibamos onde está. Somos colocados como observadores cegos no meio de um tiroteio de hipóteses que no fim são engolidas pela ausência de heróis.
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