A tristeza passa, sempre passa…
O cara triste anda pelas ruas do bairro a pé, atento ao chão, para não pisar de novo nos mesmos erros. E vai acertar os próximos desvios: as gomas de chiclete, chatas e ansiosas por uma sola desligada como ele; as bitucas de cigarro, estragadas à mercê dos viciados; as folhas amareladas e sem vida; evita também as belas flores e abelhas que giram ao redor do seu cabelo, pelas árvores do quarteirão.
O cara triste picha palavrões em cadernos e contesta o amor em portas de banheiro. Murra os teclados de seu computador. E queima livros, DVDs e camisetas para queimar o passado.
O cara triste rotina em bares que o livrem das suas olheiras salgadas e, então, o amargo do coração vai comprometer também a saliva no dia seguinte.
O cara triste carrega seu violão à procura de uma janela, para compor algo doloroso que abafe a única melodia que mora na sua cabeça e não se dissipa. Ele não sabe que, enquanto persistir nessa melodia, ainda vai chorar pelas ruas do bairro com seu violão a tiracolo. Se acalma, cara triste, a melodia vai passar.
O cara triste toca desesperadamente aquela campainha que tocou muitas vezes e não percebe que na frente daquela porta não há mais o capacho de bem-vindo.
O cara triste conversa com secretárias eletrônicas e passa as noites de sábado com a TV ligada em um canal de videoclipes. Abre uma lata de cerveja e lamenta não precisar mais comprar duas latas, só uma.
O cara triste vai tristear por algum tempo ainda e vai gastar sua tristeza, até que não sobre mais uma nota dela. Vai, pouco a pouco, enfrentar o padeiro e pedir pão francês e cigarro. Durante o banho, o cara triste, vai olhar para as gotas da ducha e se lembrar de lágrimas, mas não vai chorar por ter zerado o estoque. Num dia normal, o cara triste vai acordar mais magro, tomar o seu banho, fazer o seu café e libertar um sorriso. Esse cara que era triste vai dizer para si mesmo: no fundo eu sabia que a melodia passava.
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