
Cidade dos Anjos e a saudade de quando eu era humano
Um anjo chamado Seth (Nicolas Cage) tem a tarefa de ajudar pessoas que estĂŁo a beira da morte. Em uma de suas missões, acaba se apaixonando por Maggie, uma mĂ©dica que acaba de perder um paciente, e vive um perĂodo de questionamento profissional e existencial, no que se refere Ă vida e a morte. Seth tambĂ©m vive um dilema; na condição de anjo, experimenta situações de privilĂ©gio espiritual, mas ao mesmo tempo, lidar com o estágio humano oferece sensações interessantes, principalmente agora que está apaixonado.
Com o correr da trama, Seth terá a chance de escolher entre voltar Ă vida humana ou continuar em sua tarefa espiritual. A partir desse dilema, o filme passa a mexer com as vivĂŞncias mundanas do cotidiano terreno. Tocar alguĂ©m, sentir o gosto de uma fruta, abraçar sensações singelas que sublinham a existĂŞncia concreta. Rever esse filme nos anos 10 traz um paralelo muito interessante sobre o lado presencial e fĂsico das relações. Sobre deixarmos os outros serem de fato humanos e toda a beleza que reside nessa permissĂŁo.
Nossas exigĂŞncias aumentaram, os relacionamentos sĂŁo precedidos por currĂculos. VocĂŞ vĂŞ antes o menu de vantagens da pessoa. Listamos coisas que gostamos ou nĂŁo, criamos um cĂrculo de exigĂŞncias e prĂ©-requisitos que nos blindam daquela graça de antigamente, a da descoberta, sem spoilers. Essas sinopses nos prendem a um script de atitudes, ficamos presos ao que prometemos no cardápio, deixamos de provar alguĂ©m por certezas e pressupostos artificiais. Tudo isso me faz pensar ironicamente que eu ando com muita vontade de voltar a ser humano.
Tenho saudade da descoberta, de não prometer nem assim nem assado, de construir junto, de não procurar no Google a compatibilidade do signo. Não roteirizar como eu quero que seja, nem criar esboços, linhas de ação, sinto falta da perda de controle, de desbravar o desconhecido sem fazer cruzamentos astrais prévios. Tenho saudade de ler um texto de amor e saber deduzir quem é o autor. Numa experiência recente, resolvi ler diversos textos sobre o tema do amor, cada qual com o olhar de um escritor. Tive a sensação de estar lendo o mesmo texto vinte vezes.
Agora, estou aqui ouvindo “Íris” do Goo Goo Dolls, uma das mĂşsicas da trilha sonora do filme, um baita sucesso da Ă©poca. Já nas primeiras frases, a mĂşsica diz: “E eu desistiria da eternidade para tocá-la/ Pois sei que vocĂŞ me sente de alguma forma/ VocĂŞ Ă© o mais prĂłximo do paraĂso que chegarei/ E eu nĂŁo quero ir para casa agora.” Traduzir apenas esse trecho me faz pensar que estar perto Ă© o milagre de agora, nĂŁo será incomum daqui 10 anos, sentirmos falta da realidade Ăłbvia, a do toque. Torço por momentos acidentais, sentir sem manual, redescobrir o significado de conexĂŁo.
Ainda sobre as competĂŞncias, temos uma das trilhas mais bem recebidas da histĂłria do cinema, e ela Ă© ainda mais deslumbrante, ao reagir com os cenários e imagens coletivas dos anjos, há uma sincronia precisa e romântica para que a gente se encante com a metafĂsica poĂ©tica do filme. Cidade dos anjos tem lá seu apelo sentimentalista, Ă© caprichoso com as nossas lagrimas, e inevitavelmente devastador no quesito “vamos chorar no final”. O cinema Ă© inspirador quando sabe da beleza do encontro.
9 comentários abaixo sobre Cidade dos Anjos e a saudade de quando eu era humano
espetacular! tudo o que sinto quando relembro deste filme, me traz as mesmas sensações
Caramba, vi esse filme ontem e chorei horrores, pq é claro, mesmo ja tendo decorado ele não me canso de ver. Ele é daquele tipo de filme que a cada vez que assisto aprendo uma nova lição
GOO GOO DOLLS!!!! Hahahaha
Amoooooooooooo!
Mais uma vez acertou no post Eduardo! Esse filme é a coisa mais linda do mundo, já vi umas 5 vezes e sempre choro no final.
Não sei se eu ando tão sentimental ultimamente, mas confesso que a maioria dos posts estão me emocionando demais. Continuem, gosto disso! E o Edu sempre mandando benzaço! ;)
Esse filme! <3
Esse filme, Goo Goo Dolls, e lágrimas!!!
Esse filme Ă© atemporal! Mandou bem demais!