Coração (e ouvido) a batucar

47. É esse o número de vezes que Maria Rita fala a palavra samba no disco Coração a Batucar. Sim, eu contei. Quis ter a certeza de que não foi só uma impressão não conseguir prestar atenção em nada além do batuque e da belíssima voz da cantora.

Assisti ao show de Maria Rita ontem e hoje, ainda de ressaca sem bebida, não parei de pensar na cantora que vestia verde e rosa da Mangueira e se apropriava da história da escola para dizer que “nasci pela graça de Deus num país que tem samba”. Relembrei cada um dos seus gestos – que, mesmo quando desprovidos completamente de sensualidade, arrancavam suspiros da plateia inteira – e percebi que, no fundo, ela cantava pra si.

Não sofri, não quis chorar, não quis morrer. Não quis nada. Só quis ouvir o pandeiro, o tamborim, a voz. Não fiz uma foto sequer. Não bebi, não me preocupei com os conhecidos distantes nem com os desconhecidos próximos.

E o disco é assim também. Embora nada seja tão contagiante quanto ouvir Maria Rita pessoalmente, faixa a faixa você vai esquecendo da vida e se jogando no samba. Em cada batida no pandeiro o coração batuca. Esquece que ama, que chora, que ri. Só batuca e mais nada.

16 vezes Maria Rita canta a palavra amor. São nove citações à saudade. Mas em qualquer palavra cantada em Coração a Batucar, no fundo, o que se ouve, é samba.

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