Deixe livres os meus pés – um texto sobre companheirismo e liberdade

por Nathalí Macedo

Numa dessas noites de insônia eu descobri uma metáfora perfeita pra te dizer o quanto eu te amo e o quanto você é a melhor coisa que eu jamais ousei em pedir ao universo de presente – mas ele me deu mesmo assim, porque sempre sabe o que faz.

Numa dessas nossas conchinhas reconfortantes, de temperatura tão perfeita que parece resultante de cálculos extensos e teorias químicas complexas, eu descobri porque você é tão espetacular.

Você sabe, eu adoro conchinha. Adoro sentir sua pele e sua respiração. Gosto do aconchego, do conforto, da segurança. Gosto de você. Mas – você sabe, também – que eu sou campeã brasileira de manias esquisitas. Sabe tão bem que suporta todas. Absolutamente todas, até a de jogar a toalha molhada em cima de você enquanto você dorme. Uma dessas manias é particularmente irritante: Mesmo amando seu abraço e seu carinho numa conchinha, eu gosto do espaço para mexer os pés. Sempre que você encosta os seus pés nos meus, eu os afasto na velocidade da luz, tão delicadamente quanto uma mula brava.

E, de verdade, eu acho admirável o modo como você nunca reclamou. Jamais interrompeu a conchinha deliciosa e virou-se pro outro lado. Nunca se magoou, nunca empurrou meus pés de volta e nunca sequer perguntou de onde diabos eu tirei essa história de pés livres: você apenas me deixa ser como eu quero ser. Deixa meus pés irem onde quiserem – e não apenas metaforicamente.

E do mesmo modo que eu continuo feliz e satisfeita sentindo seu abraço enquanto mexo, estranha e livremente, os meus pés até pegar no sono, eu continuo absolutamente realizada em te ter ao meu lado enquanto vivo tudo o que quero viver, sou tudo o que quero ser e faço tudo o que quero fazer – sem cobranças, sem questionamentos e sem pés presos. E o maior desejo da minha existência é poder ser tudo isso pra você também. E poder te agradecer, e te retribuir, e te recompensar dia após dia.

Porque, verdadeiramente, você sabe amar. Sem nós, sem correntes, sem prisão – exatamente como eu sonhei secretamente durante toda a minha então breve vida. Você sabe ser o que eu sempre quis: Deixe livres os meus pés e prenderá meu coração para sempre.

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