Entropia – As pessoas mudam?
Eis que essa semana estava conversando com uma amiga sobre futilidades em geral, daqueles papos improdutivos que uma noite de quarta-feira qualquer possa resultar, mas não sei porque as vezes acham que tenho cara de conselheiro sentimental e fui questionado assim sem mais nem menos: “Allan, você acredita que as pessoas mudam?”
Dotado de uma sapiência única estufei o peito cheio de certezas e respondi: “Depende, talvez. Quem sabe”.
Ela foi mais adiante e queria saber se é possível alguém mudar em um mês. Não precisava de uma bola de cristal para saber que meu consultorio sentimental havia sido aberto e nem sequer estava ganhando hora-extra. Rapidamente pude perceber que se tratava de uma questão sentimental o qual seu affair havia mudado completamente, e pelo tom da conversa, havia indícios que era para melhor e para agradá-la.
Nesse instante já poderia dar uma resposta um pouco mais digna do que a anterior e dotado de uma filosofia Houseana joguei na lata: “As pessoas não mudam”. Tenho que concordar com o Dr. House, excluindo traumas e episódios muito marcantes (aí poderia até pedir um auxílio ao nosso psicólogo Fred Mattos) nossa essência é a mesma. Sou e sempre fui meio chato (ou muito, vai saber), gosto de fazer piadas com quase tudo, às vezes até passando dos limites do socialmente aceito e politicamente correto, entre outros traços intrínsecos a minha personalidade. O que mudam são gostos, afinidades, e talvez isso explique muito por exemplo porque nossas amizades (não falo individualmente, mas o círculo de amizades) de hoje são possivelmente diferentes da que tínhamos 5 ou 10 anos atrás.
Mas aí faltava responder a questão principal que era essa mudança em tão pouco tempo, e para isso resolvi apelar para a engenharia.
Existe um conceito em ciências térmicas, onde basicamente é usado por químicos, físicos, engenheiros químicos, mecânicos (como no meu caso), entre outros, chamado de Entropia. Para não me estender muito, posso dizer de uma maneira bem simples que a entropia é uma forma de mensurar a irreversibilidade. Ou seja: quanto maior a entropia, mais difícil de voltar ao que era, mais esforço (energia) é necessário para que isso aconteça.
Nós como seres humanos somos dotados de uma baixíssima entropia, e para isso posso usar os exemplos mais banais. Conheço uma dezena de pessoas que falam: “segunda-feira começo uma academia”, perfeito!
Na primeira semana vão todos os dias, fazem tudo conforme o script, vão para esteira, bicicleta, elíptico, spinning, musculação, muay-thai e fazem valer aquela astronômica mensalidade.
Na segunda semana continuam indo todos os dias, mas já vão pular uma esteira, deixar de fazer um exercício…
Na terceira semana já estão indo três vezes, só pra dar uma caminhadinha.
Na quarta semana, bem, fez muito frio e até nevou, então não conta!
Acho que todos pegaram onde quero chegar. A própria ciência já nos diz que sempre tendemos a voltar ao estado de menor energia possível, em outras palavras, sempre temos essa inclinação para voltar onde é mais cômodo.
A cada dia me convenço mais que o grande problema da sociedade atual está nesse imediatismo: Não é porque é consigo buscar algo em 0,3 segundos no google que a minha vida precisa funcionar da mesma maneira. Nossa vida sentimental não pode funcionar na mesma velocidade da era da informação assim como demonstrações de afeto não deveriam serem feitas exageradamente em redes sociais. Concluindo, em meu entendimento as mudanças para serem consistentes precisam de tempo, e para piorar o mundo nos torna cada vez mais impacientes.
Para finalizar, como já diria o sábio Chico Xavier: “Não há problema que não possa ser solucionado pela paciência”.
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