Eu queria te escrever sobre o nosso último dia bom
Eu apenas queria escrever alguma coisa sobre aquele dia. Porque para mim realmente não importa qual dia da semana foi, em que mês estávamos ou o ano em que se passava. Eu só queria escrever sobre o último dia em que as coisas entre nós foram bem. Talvez tenha sido uma sexta-feira, porque lembro de ter pousado a minha cabeça cansada em seu peito nu. Eu estava cansada depois de um dia inteiro de trabalho e horas de estudo? É, pode ser que sim.
Foi o último dia, naquele verão, em que pensei que eu e você poderíamos durar de verdade. Acho que acordei e vi árvores com folhas caídas enquanto dirigia até a sua casa. Pensando bem, pode ser que tenha sido no outono. Não importa, tenho certeza que sorri quando a nossa música começou a tocar na rádio. Eu queria que você tivesse visto o brilho dos meus olhos. A bonança antes da tempestade.
Você me recebeu com um abraço longo. Eu estava em casa. Os seus braços eram o meu lar. Quem ousaria pensar que isso um dia viria a acabar?
Decidi te levar para tomar sorvete. Era véspera de Páscoa, não era? Então talvez tenha sido em um sábado, porque lembro claramente de que você se recusou a ganhar um ovo de Páscoa. Comemoramos com nosso passeio preferido. Nosso pedido era sempre o sorvete de morango, mas naquele dia decidimos testar todos os sabores possíveis. A mistura foi tão grande que rendeu uma dor de barriga em alguém. Você ou eu? Não importava, colecionamos algumas boas gargalhadas naquela noite.
Fomos para a cama depois das três da manhã. Vasculhando bem as memórias, acho que quem passou mal foi você. Lutei contra o sono e levantei da cama para procurar um remédio. Sua casa nunca tem remédio, então tive que recorrer a uma mistureba que minha mãe sempre fazia. Maisena com limão? É, você fez careta quando viu aquilo. Eu também faria.
Voltamos para a cama e você sussurrou um “Obrigado, morena. Eu te amo.”, beijou minha testa e dormiu. Hoje, vejo que não dei o valor que gostaria de ter dado àquele último “eu te amo”. Como eu poderia adivinhar que era o último? Eu poderia ter dito que também o amava. Poderia ter sorrido exatamente da mesma forma que fiz quando escutei tua declaração pela primeira vez. Eu não fiz nada disso. Eu apenas confirmei com a cabeça e adormeci em seus braços.
Aquele longo, longo, longo dia terminou. Nosso último dia antes de seguidos momentos de indiferença e frieza, das brigas por motivos fúteis e de você me deixar. Não tenho certeza de quantos dias se passaram desde o nosso último dia bom e o dia em que você me deu um abraço, cheirou o meu cabelo e disse adeus. Talvez não tenha sido mais de uma ou duas semanas. Provavelmente, três semanas tenham sido suficientes para me fazer entender que nunca mais me colocaria a mercê de qualquer outra pessoa. Sem dúvida, não demorou mais que um mês para que eu visse que poderia viver sem você aqui. Mas eu não quero. Eu não vou.
O que importa é que eu sei que aquele dia, o nosso último dia bom, foi em uma tarde de domingo.
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