Ivan Martins: ainda bem que ele não escreve “como macho”
Para começar, a coluna que ele assina no site da Revista Época é praticamente uma leitura obrigatória para todas as mulheres que, como o nome deste espaço sugere, querem entender os homens. Depois, é um dos primeiros colunistas homens que fala abertamente sobre dramas que sempre julgamos muito femininos: discussão de relacionamento, principalmente.
Sem contar que, por mais cafona que isso possa parecer, sou fã do trabalho do Ivan e não acharia justo omitir de vocês respostas tão bacanas e cheias de verdades que, nós, mulheres, muitas vezes não compreendemos.
Um agradecimento especial ao Fred Elboni (que vocês conhecem bem), que intermediou o nosso contato.
Com vocês, ele, que entende as mulheres como ninguém, apesar de nos fazer entender um pouco melhor os homens!
Você é colunista de uma das maiores e mais influentes revistas do país e fala de relacionamentos. No início, as pessoas estranharam esta relação de um homem falando sobre relacionamentos na internet?
Não percebi nenhum estranhamento. Exceto os babacas de sempre – “tá fazendo isso pra pegá mulhé” – as pessoas receberam de um jeito carinhoso, desde o começo. Isso mostra, eu acho, que o tema da coluna foi uma escolha certa, e que eu comecei com a pegada adequada. Não faltaram sugestões para eu adotasse um tom “de macho” nos textos, mas eu recusei. Minha impressão é que sempre houve muita gente escrevendo de macho para macho. Não seria novidade nenhuma e não acrescentaria nada ao que a gente já fala um para o outro no bar – algo em que as mulheres, fundamentalmente, não estão interessadas.
Vi também que você falou que os textos vêm da observação das pessoas. Você acha que as mulheres mudaram nos últimos anos? De que maneira estas mudanças interferem na sua maneira de ver o universo masculino?
As mulheres mudaram muito e continuam mudando. Socialmente elas ficaram mais independentes, mais altivas, um bocadinho mais conservadoras também. Mas isso ainda não se refletiu inteiramente nas relações privadas. Cansei de ver mulher bacana, independente, bonita, comendo na mão de manés de 30 anos que ainda moram na casa dos pais e não têm um único projeto pessoal. Acho que na vida delas ainda falta equilíbrio entre o público e o privado. Mas é só uma questão de tempo antes que isso se ajuste. Minha impressão é que vai ficar cada vez mais difícil se dar bem com mulheres legais sem ter nada para dizer ou para mostrar. Só na base da pegada não vai dar.
São as diferenças que fazem dos relacionamentos entre homens e mulheres algo sempre tão intrigante. Nas discussões de relacionamento, que são sempre tão presentes nos seus textos, no que homens e mulheres diferem mais?
Acho que as mulheres ainda são mais emocionais que a gente. Os sentimentos delas estão mais à flor da pele, bons e maus. Isso faz toda a diferença na hora de conversar. Muitas vezes a gente adota aquele tom de quem está explicando alguma coisa para o chefe ou para o professor, e não adianta. Elas frequentemente querem da gente respostas emocionais. Uma lágrima, quem sabe. Ou umas palavras meio bestas, mas que venham do coração. O outro lado desse negócio é que nós, frequentemente, somos umas antas afetivas. Falamos pelos cotovelos, mas continuamos frios como pedras. Tendemos a paralisar mentalmente diante de uma carga de emoção muito forte da parte delas. É um clássico. “Você não vai dizer nada?”, elas perguntam. E a gente lá, com cara de quem não sabe nada na chamada oral. Lembrem: nós fomos criados por uma mulher de quem a nossa sobrevivência física dependeu por muitos anos. Nosso cérebro tende a entrar em pânico diante de uma mulher brava.
Em vários dos seus textos, você também se declara. Declara amor, compaixão, ternura. Mostra fragilidades. Os “novos homens”, os “homens modernos”, têm menos vergonha de expressarem sentimentos e emoções?
Não sei se é tão simples. Acho que nós estamos totalmente liberados para sentimentos mais delicados. Se o sujeito chorar depois de um pé na bunda não vai pegar mal. Se ele se emocionar com o nascimento do sobrinho ou com um filme argentino todo mundo vai achar bonito. Se ele sentir medo ou insegurança, tudo bem. Mas isso não é novo, né? Eu tenho 53 anos e na minha adolescência, nos anos 70, já se falava disso. Já se fazia isso. A grande novidade, eu acho, são os sentimentos solidários. Há muito cara que resolveu assumir parte das obrigações das mulheres, em casa e no relacionamento. Isso é moderno. Isso é revolucionário. Em vez de ficar o dia inteiro no trabalho e pintar com a grana no fim do mês, ele leva filho no médico, lava louça, cuida das (chatíssimas) rotinas da casa. Esse cara tem sentimentos – pelos filhos, por exemplo, e mesmo pela mulher – que os caras antigos não tinham. Acho que isso faz uma diferença enorme. Em 20 anos você vai ver como o mundo estará diferente, por causa desse tipo de cara.
Quais os novos dilemas (vi hoje seu texto sobre o status de relacionamento no Facebook) que os casais e as pessoas enfrentam? O que mudou nos relacionamentos de algum tempo pra cá e o que esperam as pessoas que se relacionam hoje?
Dilema novo, como eu já disse acima, é a demanda das mulheres por uma divisão mais igual da vida. Elas vão pro mercado,a gente ajuda mais em casa. Quem tentar viver como seus pais terá problemas com as mulheres. Outro dilema, ligado à internet, é entre o público e o privado. Vai ser foda conduzir as dificuldades da vida com todo mundo assistindo pelo Facebook. Não é só o status de relacionamento: sua garota posta uma foto nova e trinta gaiatos entram lá curtindo e fazendo comentários elogiosos. Como você reage? Cinco anos atrás ninguém passava por esse teste emocional. É tudo novo. Finalmente, acho que tem um conflito entre as liberdades pessoais e as garantias de fidelidade. Como todo mundo pode tudo, como muita gente fica com muita gente, alguns (que não são poucos) reagem com regras muito duras de controle. Tem uma garotada por aí levando vidas bem mais conservadoras do que eu levei – e usando, como justificativa, o risco da promiscuidade. Acho que esse conflito vai se acentuar.
O Entenda os Homens surgiu de uma intenção parecida com a sua: falar de uma maneira e de assuntos que não eram comuns na internet, especialmente pelo viés masculino. O que você acha desse tipo de iniciativa que mostra mais a opinião dos homens sobre o comportamento e os relacionamentos?
Acho legal, desde que evite os clichês e tente desafiar as suas próprias premissas. Como eu disse lá no alto, ninguém quer ver na internet (ou impressas) as conversas bobonas que nós homens temos no bar. Para quê? Para quem? O lance, eu acho, é incorporar na conversa masculina as mudanças, as ideias das mulheres, o contraditório. Assim o papo avança e fica mais divertido. Conversa de vestiário é igualzinha desde que eu tenho 10 anos – chata, mentirosa (todo mundo tentando posar de bacana) e repetida. E o cheiro do vestiário masculino é uma droga.
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Sem maquiagem, exceto duas ou três vezes por ano – no casamento da melhor amiga, por exemplo. Aí a gente olha pra elas como se nunca tivesse visto. Mas não pode exagerar. Quem gosta de perua é peru.
– Fazer sexo no primeiro encontro x Não fazer sexo no primeiro encontro
Viva o sexo no primeiro encontro – mas se a moça for tímida, está autorizada a gastar mais tempo. Só não pode fazer tipo, tá? Isso pega malíssimo, e dá na vista.
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Se tentar pegar a minha senha eu mando embora imediatamente. Que absurdo! Acha que eu já não tive mãe?
– Mulheres com cabelo curto x Mulheres com cabelo comprido
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