Menos medo de perder e mais coragem para viver

Hoje eu me encontrei com um amigo e ele me perguntou:

“Ique, seu pai faleceu ano passado. A foto de perfil do seu Facebook é de vocês dois abraçados. Por que ainda não mudou?”

O assunto é delicado, mas eu acho importante falar sobre isso. No início da doença do meu pai, eu me senti completamente perdido. Sofri em silêncio. É o que muitas pessoas fazem. Guardam a dor para si mesmas.

Por várias noites eu fiquei sem dormir e pensei:

“Por que meu pai está doente e vai morrer?”

Nunca tive uma resposta exata para essa pergunta. Mas queria contar algo que nunca contei para ninguém. Em toda minha vida, eu fui um menino muito solitário. Vivia grande parte do meu tempo dentro do meu quarto.

Escutando música, jogando video game ou vendo seriados. Conversava pouco com as pessoas e abraçava minha mãe só em datas festivas.

Um dia, entrei no quarto do meu pai doente e perguntei se ele precisava de algo.

Ele disse: “Eu preciso que você viva a vida.”

“Eu vivo.” – respondi

“Então me conte tudo sobre sua vida, filho.” – ele perguntou.

Fiquei cinco minutos em silêncio.

Ele então falou: “Meu filho, você está vazio. Você não sorri, não faz novos amigos e parou de escrever, porque tem medo do que os outros vão pensar de você. Você vive trancado em um quarto. Qual foi a última vez que você se sentiu feliz? Meu filho, preste atenção no que eu vou dizer:  não sou eu que estou morrendo. É você.”

Comecei a chorar. Então, meu pai olhou pra mim e disse

“Meu filho, o mundo só dá voltas para aqueles que constroem uma nova história. E não existe nenhuma história mais importante que viver o agora.”

“Por onde eu começo essa história?” – perguntei

“Pelo mais importante.”

“E o que é o mais importante?”

Meu pai respondeu: “O amor.”

Eu saí do quarto dele andando pelo corredor e vi minha mãe sentada no sofá. Parei na frente dela e disse: “Mãe, por favor, levanta.” Ela me olhou assustada: “O que aconteceu, meu filho?”

“Eu quero te abraçar. Só isso.”

Ela ficou em pé e começou a chorar. Ficamos abraçados em silêncio. Eu me senti feliz e voltei a escrever no meu blog.

Alguns meses depois, um texto que escrevi sobre o amor viralizou na internet e então realizei um grande sonho. Publiquei um livro e fiz duzentos mil novos amigos.

Parei de me esconder. Troquei meu medo de me envolver pela coragem de conhecer.

Então, meu amigo, quando vejo meu pai e eu abraçados naquela foto, os dois com um sorriso no rosto, lembro da luta do meu pai para sobreviver e da minha vontade de viver.

Aquela foto tem um significado: força, gratidão e amor.

Talvez eu nunca descubra a resposta sobre por que meu pai ficou doente e faleceu. O que posso dizer é que meu pai me fez ver que o amor é mais forte do que qualquer medo ou dúvida, e que mesmo nas histórias mais tristes, ainda podemos encontrar um final feliz.

Ele me fez entender que você só descobre quem você é pelo amor. E que estamos aqui para sair do quarto e nos apaixonarmos, para escrever sempre uma nova história, para realizar algo com que sempre sonhamos, para ter a chance de recomeçar, para ter alguém para conquistar, para enfrentar nossos medos e assumir os riscos sabendo que podemos perder.

E você vai perder.

E quando isso acontecer, use a sua luz interior. Ela irá te mostrar o verdadeiro amor e é esse sentimento que deve guiar você. Então, não tenha medo do que o amanhã pode trazer.

Nós nunca saberemos o que vai acontecer. Mas, certamente, estamos aqui para viver. Hoje e todos os dias. Viva mais intensamente a vida.

Esse é meu recado para você aí do outro lado. E, para meu pai, eu queria dizer apenas obrigado. Não posso vê-lo, mas eu sei que está aí. Eu posso sentir.

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