Não desanime pois até um pé-na-bunda te empurra pra frente
Nos fazemos de cegos para não enxergar aquilo que o coração dos outros não sente. Faltam sinais que demonstrem interesse, toque vontade e prazer. É como assistir a implosão de um prédio que ainda contém coisas valiosas para nós, na parte de dentro, sem poder fazer algo para mudar a situação. E não, não estou falando de joguinhos de sedução ou coisas do tipo, é um xeque-mate sem aviso prévio, que nos faz perder a cabeça e o chão no mesmo instante.
A angústia nos acolhe como uma velha amiga, dessas que tenta ajudar, mas só piora a situação, nos fazendo reféns de uma saudade que não podemos mais matar. Nada, absolutamente nada, nem ninguém, seria capaz de nos animar. Pelo menos não enquanto não lermos novamente nosso próprio manual de instruções, tentando encontrar um possível erro para justificar o sofrimento. Entramos em um modo automático, em que “viver” torna-se “sobreviver”, e apenas isso. Foda-se o trabalho, os planos pessoais, as contas e os amigos. Coisa nenhuma importa mais que o descaso de quem poderia ter ficado e mesmo assim resolveu partir, partindo nossa vontade de existir ao meio.
Sair de casa? No way! Parece que os cheiros, as músicas e os lugares estão cheios de remorsos, dos quais preferimos evitar. Aprendemos a contemplar o teto do nosso quarto, com os olhos marejados, em busca de qualquer resposta que possa dar fim a essa tristeza que insiste em cavoucar o peito atrás de sossego. Qualquer coisa seria melhor do que esse sofrimento sem fim que não pedimos para receber tão instantaneamente.
Algum tempo depois e ainda parece que foi ontem, né? A solidão é tão grande que é preciso dividi-la entre filmes, potes de sorvete e travesseiros para tentar esquecer, mesmo que por um momento, algo que gostaríamos de apagar da nossa existência.
Por mais difícil que seja, é preciso dar um passo por vez, um dia por semana, até que todo aquele pesadelo se transforme em aprendizado para as próximas decepções. No fundo, sabemos que a culpa é toda nossa por depositar tamanha vontade nos outros, mas nos esquecemos de que o perdão para ela também é inteiramente nosso.
Errar pode ser tão incrível quanto acertar, basta conseguir enxergar os pontos positivos, mesmo que isso demore. Quando a gente menos espera já está pronto pra outra, mais forte e menos bobo. Podemos morrer de saudade sim, mas de amor jamais. A grande sacada é entender que tudo passa, até uva passa, meu amigo (a piada foi horrível, sim eu sei), e por mais bizarras que possam parecer, todas as situações nos fazem evoluir de alguma forma, porque até um pé-na-bunda nos empurra para frente.
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