Não escreva cartas de amor, faça caras de amor

Palavras são ofícios. Por mais bonitas – e até rimadas, veja! – que sejam, sempre é possível que já tenham sido ditas em momentos de outros casais. Não há como exigir exclusividade de um apelido carinhoso, de um verso sobre aquele silêncio em frente ao mar.

Mas as caras de amor são únicas. Ninguém tem aquela cicatriz ou aquele jeito charmoso de fechar mais um olho do que o outro. O mundo pode ter sete bilhões de pessoas, mas nenhuma delas faz aquela expressão com os lábios carnudos exigindo um grito de prazer.

Não há repeat, as expressões acontecem em um looping infinito. Todas únicas. Um dos poucos infinitos dos quais todos fazem parte. Um desafio eterno para o universo que, pobre, acaba sucumbindo à uma realidade feliz: só as expressões de amor nos fazem únicos.

Cartas de amor são escritas em papel de inspiração. Caras de amor são escritas na carne que não aguenta de prazer. Se contorce porque transborda.

Não confie em cartas de amor. Qualquer um pode ter redigido aquelas palavras, mesmo que escritas a próprio punho. Já as caras de amor são à prova de falsificação, tem Copyright automático atestado pelo universo.

As caras de amor são demonstrações espontâneas, carnais e muitas vezes incontroláveis. Não há rascunho nem razão. Já nas cartas, cada vírgula pode ter sido planejada para despertar uma dúvida ou certeza, as rimas para serem ricas ou pobres.

As cartas podem ser rasgadas num momento de ódio, já as caras não serão esquecidas nem no desamor. Cartas de amor duram pra sempre, mas são passageiras. Caras de amor são eternas, mesmo que durem um segundo.

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