Não mude só a cor do cabelo – Um diálogo sobre arriscar mudanças todos os dias

Mudar deveria sempre ser a nossa constante. As pessoas costumam estampar mudanças através do visual, pelo cabelo, o cabelo é um símbolo padrão na hora de ostentar uma mudança. Mas, o grande problema é esse: tem gente que só muda o cabelo. Queria ter uma conversa séria com quem um dia saiu dizendo por aí que ter personalidade é sinônimo de morrer lutando pela mesma ideia. Gente que briga bravamente por verdades vencidas por puro medo de perder a credibilidade ao dar o braço a torcer. O problema aí, nem é a tal mudança de opinião. O problema é quando não sabemos o motivo de tal mudança. É libertador assumir que um argumento te convenceu, ou sabemos explicar porque não fomos convencidos. Mude, não só o visual, mude pequeno, pode até começar pelas pontas, mas comece.

Mude a sua opinião sobre um filme. Costumo dizer que um longa começa antes do “play”. Ele começa pela expectativa, pelo trailer, por um spoiler, pela critica que você leu antes, ou pelo que seu amigo achou. Um filme nunca termina na passagem de seus créditos finais. Exige tempo pra digerir, aceitar, se apaixonar, degustar, desgostar, ruminar. Adoro odiar um filme, e depois, diante de uma coletânea de contra-informações, fazer o retorno, reavaliar, enxergar novos sentidos, dar uma chance, entender que uma obra é feita não só por sua matéria prima bruta mas também por seus arredores, pela mensagem que chega diferente em cada um. Quem nunca foi injusto com um filme? Mude sua opinião, mude pequeno, mas comece.

Mude o jeito da lasanha: faça com massa de pastel (jogue leite morno na massa). Mude, peça pizza sem orégano, fica muito melhor, o orégano é um ladrão de sabor. Mude, jogue um pouco de canela no brigadeiro de colher, o novo gosto ultrapassa explicações. Mude, coloque fermento em pó na omelete, deixe ela fofa. Mude um ingrediente, mude pequeno, mas comece.

Mude a ordem de vez em quando: coma o doce antes do salgado. Mude o humor, às vezes o mundo te parece cinza porque você ainda não sorriu. Mude o caminho, pare de pegar a Rebouças, pegue a Teodoro, ou a Rua dos Pinheiros, apele para o “menos mal”, ganhe mais tempo e saúde mental. Mude, não tenha medo de ter medo. Viva esse medo, ele nunca nos abandona, mas deixe-o em segundo lugar. Mude, mas não faça como a MTV. Mude, pare de levar canetas emprestadas embora sem querer. Mude a careta que você faz para as fotos do “face”, o mundo adora caretas novas. Mude, nunca concorde com tudo, discorde de mim, mas com jeitinho. Mude, volte atrás, peça desculpas, as despedidas mais importantes nunca acontecem, pode não dar tempo, mas lembre-se: ainda dá! Mude, pare de cagar regras nas redes sociais, você não pertence a “comissão da verdade”, você é só mais uma cobaia do Zuckerberg. Mude o seu discurso, pare de dizer que você não é preconceituoso, você é, todos somos, mude a forma de encarar um preconceito, derrube-o, mas antes admita que ele está em você. Mude, dê lição de moral às vezes, mas não exagere, pare na hora certa. Pare por aqui.

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