O amor de um homem
Essa carta é só pra dizer que eu te amo. Não só, como se “só” quisesse dizer pouco, mas só no sentido de somente, de este ser o único propósito desta carta. E carta é modo de dizer, porque a não ser que haja uma hecatombe mundial, a probabilidade de eu enviar esta carta pelo correio ao invés de mandar por email é ínfima. Só não é nula porque sabe-se lá quando um coreano maluco ou um iraniano colecionador de bombas atômicas podem acabar com tudo. Mas chega de falação porque depois de sete linhas eu ainda nem falei que te amo. Bom, eu te amo.
E o que é mais incrível é que eu te amo de uma maneira diferente. De uma maneira leve. Sem preocupações nem sofrimentos. Sem medo dos tão sempre temidos “e se?”. Eu te amo sabendo que, mesmo com a certeza (ou quase, não podemos confiar nos coreanos e nos iranianos) de que vamos nos ver no dia seguinte, eu mando mensagem dizendo que estou morrendo de saudade. Eu te amo e nosso amor é, principalmente, só entre nós dois. Só depende de nós.
Eu te amo e me declaro sem esperar declarações de volta. O fato de você ser tímida (muito, diga-se de passagem), a faz não ser tão verborrágica quanto eu com relação aos seus sentimentos, mas eu não ligo. Eu não ligo porque quando dá domingo de noite e você me abraça forte, sabendo que dali há pouco eu vou pra casa e neste dia não vamos dormir juntos, você já se declara mais do que eu em uma centena de linhas. Eu não ligo porque quando o seu olhar ainda (e espero que para sempre) apaixonado é a primeira coisa que vejo quando acordo, não há declaração mais eficaz. Eu não ligo, principalmente, porque quando você, de madrugada, sem acordar, me procura na cama, inquieta, e dorme calma e tranquila depois pegar a minha mão – quando você faz isso é melhor do que qualquer declaração de amor que um homem jamais teve.
Eu amo a sua barriga quente, amo como você segura a caneca com as duas mãos e amo quando, depois de ficar uma hora no banheiro todas as noites lavando o rosto e passando cremes, você volta para o quarto com aquela cara de “Demorei muito? Desculpa!”. Eu amo sua aversão à internet e a maneira com que você não precisa dela. Acho lindo você ler toda noite, sem exceção, chova a quem doer. Amo quando você fala que meu cabelo está ótimo – e não importa como ele esteja, você sempre vai dizer isso. Amo o fato de você adorar simplesmente ficar em casa vendo filme comigo. Eu não te amo porque você me ama, mas saber disso fortalece o que eu sinto e me transmite confiança, pelo fato de você ser uma mulher da minha idade, que sabe o que quer e que não está fazendo nem dizendo nada por impulso.
Eu não sei porque eu te amo. Nem me importa saber. Saber o porquê eu te amo tornaria menores todos os outros motivos pelos quais eu poderia te amar, por isso, não me importa. O que me importa é que eu te amo, e você me ama. Sobretudo, porque sei que a sua resposta à essa carta de seiscentas e trinta e seis palavras vai ser um email de menos de 4 linhas, porque você é tímida, mas que vão ser as quatro linhas que eu mais vou ler e reler e reler na minha vida.
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